Este blog contém o relato da viagem à Antártica realizada como guia da empresa ANTARCTICA XXI, entre dezembro de 2009 e janeiro de 2010. Por ser um Blog, a ordem cronológica dos eventos postados é reversa. Para ler desde o início, navegue pela barra lateral a direita. Para a primeira página do blog, siga este link http://diarioantartico2009.blogspot.com/2009/10/preparativos.html

Boa Leitura.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

08/01/2010 - The End

Depois do almoço no aeroporto de Santiago, consegui me enfiar na fila enorme no checkin da Pluna. Que vôo confuso ! 90 passageiros, na sua maioria brasileiros, carregando bagagem de mão que eram maiores do que minha mochila back-pack ! O vôo da Pluna para Montevideo foi em um jato da Bombardier parecido com o nosso Brasilia - apertadíssimo ! Saímos com uma hora de atraso e ainda por cima fizeram a presepada de tirar todos os passageiros em Montevideo só para passar pelo detetor de metais. Trocaram de portão e uma passageira com destino a Santiago acabou entrando no nosso avião para São Paulo ! um caos ! Não recomendo a Pluna em hipótese alguma !


No aeroporto de Guarulhos, chegamos com uma hora de atraso e ainda por cima tive que passar pela alfândega. Sorte que os brazucas na minha frente deixaram os policiais muito ocupados e me liberaram logo. Decidi dar de presente para mim mesmo um taxi até Santos, pois estava sem saco nenhum de pegar ônibus.


Cheguei a uma da manhã em casa e fui recepcionado calorosamente por minha cachorra. As lambidas da Lili - muitas dela ! Adorei. Minha mãe me esperava com uma deliciosa salada, e conversamos um pouco até o cansaço me matar por completo. Deitei e imediatamente apaguei - mas foi uma noite de trabalho pois sonhei com zodiacs, gelo, passageiros e uma aventura no mínimo dinâmica destes últimos 30 dias. Agora acabou, estou de volta com os pés no chão e o melhor disso tudo é saber que a Antártica está lá, me esperando para a próxima vez.




Obrigado a todos que acompanharam o blog e enviaram mensagens. Adorei todas elas. Beijos no coração de todos.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

07/01/2010 - de volta a realidade

São 13 hs horário local do Chile e estou degustando uma ensalada de Salmon no aeroporto internacional de Santiago.


Acordei por volta das 4h30 e já bati na porta do DOC. Um taxi estava nos esperando na porta do hotel as 5h30 e já seguimos sem café da manhã e com muito sono para o aeroporto de Punta Arenas. Na passagem pelo porto ainda consegui ver o Ary Rongel e o Almirante Maximiliano no porto escuro e frio da madrugada. Ninguem na rua, apenas os famosos cachorros de Punta Arenas.


Esperamos por mais de uma hora depois do checkin para entrar na aeronave lotada e acabei pegando no sono já nos primeiros 30 minutos de vôo. Acordei logo em seguida (nem consigo dormir muito em voo) com a sensação de cabeça pesada. Brinquei um pouco no laptop enquanto Doc Angelo dormia e nada para fazer a não ser esperar.


Fizemos uma escala de quase uma hora em Puerto Mont e seguimos para Santiago. Ainda estou ansioso para colocar as malas no checkin da Pluna mas tenho que esperar até um pouquinho mais tarde. Agora o vôo sai as 15h daqui de SCL até Montevideo, onde devo aguardar apenas o reabastecimento do avião que segue para o Brasil. Chego em Guarulhos as 21:45 da noite (hora local Brasilia). Estou mais do que ansioso.


Agora já estou na civilização....Adeus Neverland.

05-06/01/2010 - Cabo de Hornos (Cape Horn) / Port Williams / Lakutaia/ Punta Arenas

As milhas finais do Drake foram mais tranquilas do que esperava. Ventos de 25 nós e ondas picadas mas regulares. Tivemos que reduzir a velocidade um pouco pois chegamos muito cedo a Cape Horn. Assim que acordei subi a ponte para ver o cabo. A combinação de sol e rochas sob o céu azul e o mar cobalto eram fantásticas. Vimos alguns barcos grandes saindo da baia Nassau - o Hanseatic e o Terra Australis. Navegamos por mais de 50 milhas a uma velocidade bem baixa, só para esperar o prático, que entrou no barco por volta das 15 hs. Ainda navegamos por mais 4 horas até chegarmos a Port Williams.


A manobra de atracação foi simples e rápida, e para a minha surpresa, quem eu vejo ancorado um pouco além do cais ?! o Paratii II de Amyr Klink. Pelo que pude entender eles tinham acabado de chegar. Não falei com ninguém da tripulação e pelo visto, devem estar todos dormindo depois de uma navegação pesada. Vi algum movimento de bote indo e vindo da base naval, onde se realiza o checkin de documentos para entrada no Chile, e depois silêncio no barco.


Jantamos no navio e logo depois descemos a terra para visitar um lodge chamado Lakutaia. Lindíssimo - apesar do vento frio cortante da noite fueguina. Ali pude ao menos usar um pouco a internet e falar com o Brasil. Não consegui falar com a Mari, mas pelo menos com minha mãe eu conversei. Retornamos para o navio as 23 hs com um problemão enorme - aparentemente o visto de trabalho de Sho, Sebastian e de Diana estavam vencidos. Os tres foram levados até o escritório da imigração e só retornaram por volta das 3 hs da manhã com a notícia de que teriam que desembarcar ali e não poderiam seguir viagem (nem sair do Chile). Estavam presos na base naval. Que situação ! isso significava que na manhã seguinte, toda a faina de desembarque e liberação do barco em Ushuaia ficaria comigo e com Doc. Trabalho e mais trabalho !


Zarpamos por volta das 3h30 para Ushuaia e consgui dormir um pouco. Achei até que poderia dormir um pouco mais mas as 6hs Doc me acordou com os policiais da imigração argentina. Era hora de trabalhar ! Passaportes carimbados e vistos concedidos, as 07h30 já estávamos na função de acordar a todos e organizar o desembarque. Aos poucos os passageiros foram se dispersando e saindo do barco. Uma hora a fila de vans na frente do barco chegou a quase o comprimento do mesmo no cais. Ainda tinhamos várias tarefas para terminar e por volta das 10 hs um carro nos esperava (doc e eu) para nos levar ao escritório do agente naval em Ushuaia. Mas quem disse que conseguiamos terminar ?! No último dia, no último minuto de viagem, um membro da tripulação se descuidou e bateu com a cabeça de frente no guincho de transporte de carga. Resultado: um corte profundo de uns 20 cm da testa até a boca passando pelo nariz. Nada muito grava, mas obrigou Doc a descer até a enfermaria para costurar o descuidado, e eu me sobrecarreguei com o translado de passageiros e bagagens. Decidimos enviar nossas bagagens para o escritório do agente naval e depois seguir a pé. Nada complicado. Já eram 13hs quando sentamos em um restaurante para comer alguma coisa. Uma última foto do cais com 5 navios de turismo antártico e seguimos para o agente naval.


As 15 horas já estávamos no aeroporto (lotado como sempre) com mais de 120 kilos de bagagem e equipamentos (sim...porque afinal Sebastian, Sho, Diana e Alex tinham ficado em Lakutaia e Doc e eu apenas teriamos que transportar tudo para Punta Arenas). Malas despachadas, ainda enfrentamos uma fila enorme na imigração lotada de alemães e americanos de 3 diferentes navios. O vôo até que foi rápido e o desembaraço aduaneiro também. Chegamos a Punta Arenas no fim da tarde e ao longe pude ver o Almirante Maximiliano e o Ary Rongel, os dois barcos da Marinha do Brasil que vão à Antártica, atracados no cais de reparo. Parece que ambos estavam com problemas e por isso o vôo brasileiro para a Antártica tinha sido adiado.


Fomos diretos ao escritório da Antártica XXI para finalizar contratos, fazer recebimentos e preencher uma papelada sem fim - e finalmente as 20 horas estavamos livres para um banho (merecido) e uma janta tranquila no hotel. Para nossa surpresa, encontramos Alex, que tinha voado de Port Williams a pouco para Punta Arenas, e a festa estava completa. Ainda conversei com Diana, Sho e Seba pelo skype, despedidas sem fim, e também finalmente consegui falar com Mariana. Que saudades !!! mas agora falta muito pouco.


Terminamos a noite, os três amigos, em um bar da cidade, para apreciar um bom pisco sauer, e me enfiei na cama já na madrugada do dia 7.


terça-feira, 5 de janeiro de 2010

02/01/2010 Curveville & Neko - Good Bye Antarctica




O segundo dia do ano começou quente, com sol e nada de vento. Atravessamos calmamente as águas de Bransfield e estávamos agora nas proximidades de Gerlache, com a Ilha Curveville logo a frente. A idéia era fazer um pequeno cruzeiro de Zodiac e depois desembarcar na ilha. Como de costume, tomei meu café rapidamente e fiquei de prontidão. Os Zodiacs seriam dirgidos por Sho, Sebastian, Alex e eu. Como eu estava pronto, fui para a água primeiro e como Sho teria que liderar, aproveitei meus minutos livres na água para brincar um pouco com o Zodiac. Peguei o melhor barco dentre os cinco zodiacs que temos, e fiquei correndo como um doido entre os icebergs que estavam perto do navio, até que Sho gritasse comigo para voltar logo ao trabalho. Acabei encostando no navio e embarcando os passageiros na sua maioria italianos. Foi uma comédia. Passamos o passeio todo cantando musicas italianas entre os icebergs. Como o Zodiac foi apelidado carinhosamente de Ferrari, acabei virando o Felipe Massa (!).





Demos a volta em Cuverville e do outro lado várias focas leopardo descansavam nos blocos de gelo. A água estava muito clara e com o sol, podiamos ver o fundo rochoso a mais de 10 metros de profundidade, cheio de algas. Maravilhoso. O desembarque foi tranquilo e desta vez fiquei descansando dentro do zodiac na praia. Não havia necessidade de subir na colônia de pinguins e alguém tinha que tomar conta dos barcos que ficaram na praia. Sentado na areia, os pinguins se aproximavam curiosos e um deles encrencou com a corda que prendia o barco na nossa caixa-âncora. Outro visitante inesperado foi um pinguim adélie que passou na minha frente. A colônia é exclusivamente de gentoos, mas as vezes um ou outro adélie aparece por ali.





Mais uma hora e voltamos com todos ao barco para o almoço - comida chinesa ! delicia ! calmamente degustado até que alguém gritasse "!orcasss!". Ai foi um corre corre. Desci correndo até o quarto e peguei a câmera, e ficamos por mais de uma hora nos deliciando com um espetáculo a luz do sol. Um grupo de orcas nadavam ao redor do barco fazendo piruetas. Vários filhotes e juvenis curiosos passavam de um lado para outro do barco e nadavam do nosso lado. Desisti de tirar qualquer foto e preferi filmar e observar os belíssimos animais nessa água transparente, sem palavras para descrever. Que sorte ! As orcas não são tão simples de se observar por aqui nessa época do ano. Infelizmente tivemos que abandonar o grupo e seguir viagem pois tinhamos hora marcada em Neko Harbour - nossa última parada no continente antártico.





Neko estava dinivamente calmo com um sol quente e praia limpa, apenas com alguns grandes blocos de gelo. A foto do grupo foi na praia mesmo, e eu acabei subindo em um bloco médio para sair na foto. Demos a volta na praia e como de costume subimos até o glacier acima (que apelidei carinhosamente de Shoshana's point porque ela é sempre a que vai primeiro abrindo a fila e o caminho na neve). Caminhei tranquilamente sem o casaco pesado e suando feito um cavalo pois a subida não é fácil. Ficamos mais de uma hora por ali, de bobeira, até descermos novamente para a praia e nos despedirmos definitivamente da península. Nossa próxima parada é Half Moon na ilha Livingston, onde vamos fazer um desembarque e depois seguir o Drake.


O jantar foi "filé argentino" e recebi um agrado do chef Marcelo - ele deixou a carne no ponto que eu pedi ! e meu prato foi entregue com o recado "especialmente para o André". Obrigado Marcelo. Janta feita, mousse de chocolate (dois) devorados, coloquei o filme 90 South, a aventura de Scott, e fui tomar um banho. Acabou-se mais um dia antártico. Fui para a cama contando as horas de chegar na América do Sul novamente. Aos poucos, "Neverland" - como chamo a Antarctica, está ficando para trás. Ainda dei uma olhada na previsão de mar e tempo para o Drake, mas não tive nenhum quadro confiável. Vou aguardar amanhã.

03/01/2010 Media Luna e Canal Inglês (Drake's gate)




O dia amanheceu lindo e sem vento novamente, e a proximidade da ilha Media Luna com os glaciers de Livingston ao fundo mostrava que a manhã seria bastante proveitosa. Saímos como de costume logo após o café da manhã, Sho, Sebastian e eu no primeiro bote com alguns passageiros e mais 3 zodiacs que logo encheram a praia. Desta vez decidi ficar um pouco mais distante, próximo a um barco antigo baleeiro na praia. Fechei a fila de passageiros, sempre seguindo os mesmos de longe. Ainda pude olhar um pouco a colônia de gaivotas que existe na pedra sul de Media Luna (foto acima - os filhotes estão no ninho o centro da imagem). Os filhotes estavam bem grandinhos já. Imagino que mais algumas semanas e estarão começando a brincar de voar.





Embarcamos as 11h30 com destino ao English Channel, a principal rota de saída das Shetlands com destino a passagem de Drake. Ali, as águas do Drake se misturam com o Bransfield e o fundo irregular e raso provoca correntes de maré e redemoínhos bastante fortes. A saída do English Channel é marcada por uma ilha na forma tabular (Tabular Island - um pouco a esquerda da foto) e pudemos por alguns minutos desfrutar do sol e pouco vento com a vista dos icebergs e penhascos da face norte de Nelson Island. Ali começava nossa travessia pelo Drake.


Liguei o sistema de som do barco e dei o aviso de 30 minutos para o Drake, pedindo para todos fecharem as janelas e revisar os itens que poderiam sair voando em caso de um mar revolto. As primeiras horas no Drake foram bastante tranquila. Começamos a pegar um swell de 1,5 metros constante de Noroeste, que balançava um pouco o barco, mas ainda sem vento e sol. Pelas minhas contas, em 4 horas deveriamos atingir a posição onde os ventos mais fortes nos abateriam de lado.





E foi o que aconteceu. Lá pelas 18 horas o mar bateu bastante firme e o vento pulou para a casa dos 25 nós. Eu estava usando um patch de escopolamina contra enjôo mas mesmo assim não deu para segurar. Fui deitar antes que minha cabeça explodisse. Ainda levantei na hora da janta mas não consegui ficar muito de pé. Metade dos pasasageiros e tripulação também não deram as caras na janta. Uma pena - salmão grelhado norueguês - metade foi para o lixo.


A noite foi um pouco mais pesada e as 22 horas a coisa estava pegando. Amarrei a cadeira do meu quarto que insistia em levantar vôo e o computador deixei sobre a cama. Consegui dormir apesar do incômodo. Vamos ver o que o dia 4 nos reserva.

04/01/2010 - No meio do Drake

Eram 2hs da madrugada quando meu estômago decidiu que queria comer um boi inteiro. Minha foma tinha chegado a um nivel insustentável. Levantei e fui até o bar me servir de sopa e biscoitos. Ainda andei um pouco pelo navio fantasma e desci até a sala de conferências bem no fundo no navio. Ali estavam 3 passageiros dormindo sobre os bancos. Por ser profundo e abaixo do nível d'água, balança menos. Por isso virou um albergue de passageiros. Mas o pior já tinha passado. A inclinação do barco chegou aos 35 graus, o que indicava que as ondas tinham sido bastante altas durante a noite. Voltei para a minha cama de barriga cheia, disposto a acordar apenas para o café da manhã.







Tomei meu café tranquilamente e fiquei de bobeira na ponte o até as 10hs quando ministrei uma palestra sobre mudanças climáticas na sala de conferências. Infelizmente tive que tirar os alberguistas de lá (risos). O almoço veio mais tranquilo ainda e agora as ondas praticamente diminuiram pela metade. O sol as vezes brilha lá fora e poucas e esparas chuvas passam pela gente. Ainda nem sinal de pássaros, o que indica que a convergência está um pouco longe. Agora a noite devemos atingir a marca das 100 milhas de proximidade de Cape Horn. Vou levantar as 5hs para ver as luzes do Cabo.

01/01/2010 ! Walkers (Hanna Point) & Baily Head/Pendulum (Deception)




Guerra de Neve !!! Finalmente começamos uma guerra de neve das boas. Tripulação, passageiros e staff, com a neve acumulada das últimas horas sobre os botes e tiros para todos os lados. Tomei um balaço de neve na cara que me deixou tonto. Mas também coloquei o Doc e Sebastian pedindo água. A meia-noite do ano novo, subimos a ponte de comando e desejamos Feliz Ano Novo no canal 16. Apenas um respondeu. Estávamos atracados em Discovery Bay, perto da estação Arturo Pratt (Chile), com o "Dione Sky" ancorado na nossa frente. Mal dava para ver o barco de tão forte que foi a nevasca da noite. Temperaturas lá fora por volta de zero grau, mas dentro do navio a temperatura subiu bastante. A festa foi modesta para os passageiros, mas logo descemos para a sala de jantar dos tripulantes, e ali a balada russa seguia solta. Entre mortos e feridos, salvaram-se todos, apesar da dor de cabeça da vodka russa. Fui para a cama as 2h00 com uma saudade imensa de casa.





Acordei cedinho no dia seguinte, as 07h30, a tempo de ver a entrada de Walkers Bay na ilha Livingston. Sinceramente, nunca tinha visto um tempo tão calmo. O mar estava com pequenas manchas de gelo formadas durante a noite na ausência completa de vento. Tomei um susto enorme quando olhei ao longe e vi uma ilha inteira atrás do navio - era Deception, a mais de 50 km dali. Na foto ao lado, dá para ver Deception ao fundo. A visibilidade era magnífica. Pessoalmente, eu nunca tinha visto Deception inteira e desprovida de nuvens. Hanna Point, nosso destino, se sobressaía ao gelo branco da baía Walkers. Ali tem uma colônia não reprodutiva de elefantes marinhos, vários ninhos de Petrel Gigante (Macronectes giganteus) e uma maravilhosa colônia de pinguins gentoos com alguns macarronis no meio. A primeira visada com o binóculo, avistei uma bóia de pesca laranja no canto da pinguineira - Lixo marinho. Ficamos de recolher na volta.





O desembarque em Hanna Point é dificil por causa do Swell. Ondas oceânicas lavam a praia com qualquer tempo e o vento atrapalha bastante o equilíbrio do barco. Mas nessas condisções perfeitas que encontramos, o desembarque foi tranquilo. Sho, Sebastian e eu descemos primeiro para vistoriar a área e localizar os grandes elefantes marinhos. A tática escolhida foi concentrar os passageiros em um pedaço limpo da praia e andarmos depois em fila, através da colônia de elefantes. Vários animais descansavam pela praia mas não avistamos nenhum grande macho. Apenas jovens e algumas fêmeas gordinhas. Uma foca caranguejeira e alguns pinguins também passeavam por ali.





Caminhamos por mais de uma hora entre a praia e a colônia, subindo cada vez mais a encosta íngrime de Hanna Point. Lá em cima era possivel ver Deception em todo o seu explendor, além da visão total e completa da área de Walkers Bay. Um Petrel Gigante apenas nos observava de seu ninho, atento mas ao mesmo tempo conformado com todo aquele movimento. Encontramos um pouco de lixo na praia - os restos de uma garrafa de coleta de água (científica), um frasco de amaciante de roupas vazio, e um fundo de uma garrafa de plástico. Estou impressionado como perto das Shetlands encontramos tanto lixo !





Na volta para a praia, ainda demos uma parada no museu a céu aberto de Livingston - uma bancada de pedra com vários exemplares fósseis de plantas, folhas e galhos, árvores petrificadas, rochas e ossos de vários mamíferos marinhos. Depois de uma hora embarcamos todos os passageiros para o navio e ainda fiquei no último bote para a operação de resgate da bóia lixo flutuante na praia - uma velha bóia de pesca laranja já semi vazia e um pouco destruida. Voltamos todos satisfeitos ao navio e já tomamos rumo para Deception, visita planejada para depois do almoço.





No entanto, o tempo estava tão bom, mas tão bom, que mudamos de planos. Baily Head é uma falésia proeminente no lado sudeste da Ilha Deception, do lado externo. A praia tem uma inclinação absurda, quase ingrime e com as ondas e vento é praticamente inacessível. Mas com aquele tempo, tinhamos que ter sorte. Descemos novamente Sho, Sebastian e eu para ver se era possivel um desembarque rápido, o que realmente aconteceu. Apesar da praia de tombo, sem swell e sem vento ficou fácil descer os passageiros.





Ali tem uma colônia de Chinstraps, ou pinguins-de-barbicha, com pelo menos um milhão (isso mesmo ! um milhão !!!) de indivíduos. A Pinguim Railway dali é monstruosa ! São centenas de pinguins indo e vindo por minuto, alheios a nossa presença. A praia parecia Copacabana em domingo de sol, mas ao invés de banhistas, tinhamos pinguins. Fiquei maravilhado e surpreso com a altura que os ninhos alcançavam. Os morros próximos, com bem mais de 100 m de altura, tinham ninhos por todos os lados. Impressionante !





O dia não tinha terminado e embarcamos novamente todos com destino a parte de dentro de Deception. Desta vez fomos a Pendulum Cove, para um banho de água quente. Eu estava com frio e desta vez decidi não entrar na água. Mas o povo amou e entrou mesmo. Uma das passageiras, de oruigem nórdica, ficou mais de 15 minutos nadando de um lado para outro, enquanto que o marido corria pela praia. Foi no mínimo divertido. Embarcamos mais uma vez todos os passageiros para a janta, e ainda cruzamos com o Polar Pionner fundeado em Whalers, na entrada da ilha. A foto ao lado mostra a passagem de saída de Deception. Nosso rumo era sul - através de um Bransfield calmo e sem ondas, com poucas nuvens no céu e uma noite maravilhosamente calma. Eu coloquei um filme para os passageiros (Marcha dos Pinguins) as 9h00 em ponto e fui dormir. O cansaço tinha vencido.

31/12 HAPPY NEW YEAR !

O dia amanheceu nublado e frio, com uma cara de não bons amigos. Levantei pouco antes do café e lá estava o Lautaro (rebocador chileno) e no cantinho da baía de Fields estava o "Mar Sem Fim" em âncora, atrás de uma chata de apoio chileno. Muito cedo para chamar pelo rádio. Desci para o café e praticamente abri o salão. Os poucos acordados estavam ainda fechando as malas e colocando as roupas de desembarque. Alguns mais tristes que outros, por deixar a Antártica naquele dia, aos poucos o salão foi enchendo. Eu acabei terminando o meu mais cedo, subi e ainda consegui falar com minha mãe por telefone. Saudades do Brasil - 35 graus, um calor danado e aquele barulho de fundo da praia cheia de gente. Por aqui a praia estava quieta, com meia dúzia de pinguins e 4 graus com pouco vento.





As 9h45 em ponto começou o corre-corre com as malas para a praia (Alex) e eu já me postei na passarela para o desembarque de passageiros, que começou logo em seguida. Na foto ao lado Sebastian carrega algumas malas no quadriciclo da estação. Seria um dia bastante cheio. Sebastian, Sho e eu descemos até Bellingshausen para um passeio diurno na igreja ortodoxa (foto abaixo) e depois na base russa. Calmamente os passageiros desfrutaram da manhã fria e aos poucos fomos nos movimentando para os prédios da base Escudero (Instituto Antártico Chileno), ao mesmo tempo que uma neve fina começava a cair. O vôo estava no horário e não precisamos esperar muito: 11h48 em ponto o avião tocava a pista para mais uma troca de passageiros.







Nesse meio tempo ainda falei com o "Mar Sem Fim". A tão aguardada peça do reversor chegava no mesmo vôo que nossos passageiros e eles estavam ansiosos. Despedidas e "Feliz Ano Novo", o ar parecia cheio de tristeza, pois ninguém queria sair dali, o que era impossível. Aos poucos o grupo foi subindo para a pista, e depois de abraços, beijos e apertos de mão dos exatos 52 passageiros, ganhei alguns minutos de fôlego antes que os novos passageiros chegasse até a praia.


Tempo suficiente para falar com a Mariana, já em Brasilia na casa dos avós para a festa de fim de ano. Ela me disse que estava construindo um barco (de blocos) igual ao que eu estava. Meu coração seguiu apertado o resto do dia, mas como estou contando as horas para a volta, até que me safei bem enfiando a cara no trabalho. Passageiros chegando, e um cronograma apertadíssimo, em apenas 1h30 conseguimos receber 30 novos passageiros, caminhar até o alto da Igreja, levá-los para carimbar passaportes em Bellingshausen, e ainda embarcar todo mundo. Já no navio ainda vimos o vôo levantar com os passageiros com destino a Punta Arenas. Zarpamos imediatamente para nosso próximo destino - Discovery Bay, nas Ilha Greenwich, perto da base chilena Arturo Pratt. Cruzamos ainda por baleias (que caçamos para as fotos da noite, é claro!), icebergs bem azuis e outras formas mais bizarras. Chegamos para o fundeio na baía as 18:30 horas.


Fiquei de botas, calça impermeável e blusão corta vento até no almoço-lanche, depois na palestra de boas vindas, treinamento de abandono de barco, e ainda por cima coloquei filme na sala de reuniões para aqueles que quisessem ver a aventura de Shackleton no cine antártico. Fui tomar banho e trocar as roupas passado 18 horas !!! Ainda subi a ponte para ver a proa toda branca de neve. A nevasca não estava dando muita trégua.







Agora estou descansando antes do coquetel de fim de ano e da ceia. Nada como um happy new year antártico.

30/12 Deception (BANHO) - Media Luna - FREI




Entramos em Deception cedo pela manhã com uma surpresa desagradável - o barco Vivamar, de bandeira italiana e com mais de 100 turistas a bordo, estava ocupando nosso fundeadouro em Whalers ! Que M. !! Sebastian, o lider da expedição, tentou em vão falar com o lider da expedição do Vivamar, e ficou fulo da vida ! Que grosseria. Depois de vários minutos no rádio e com o sangue fervendo na cabeça, Seba olhou para mim e disse "vamos! quero ver o cabrón olhos nos olhos". Troquei de roupa em um passo e pronto para a guerra voei para o deck para pegar o bote. No exato momento que subi no Zodiac para ligar o motor, entrou o Ice Pilot do Vivamar no rádio para falar com Sebastian. Escusas e mais escusas, mas não arredaram o pé do lugar. Pelo menos evitaram a confrontação com as desculpas usuais.





Mas o que era para dar muito errado acabou dando certo - fomos para Pendulum cove, bem dentro da ilha vulcânica. O lugar não tem os prédios baleeiros antigos, mas tem água muito mais quente que em Whalers. Desembarcamos Sho, Sebastian e eu para uma vistoria, e já de cara encontramos uma sopa de krill cozido na praia. Delícia ! o banho ia ser ótimo e foi mesmo. Em pouco tempo a orda de passageiros estava de roupa de banho pulando na água. Eu nem esperei muito e mandei ver. Fotos e mais fotos, e a água escaldante na superfície e congelante no fundo. Foi divertidíssimo e até o capitão Alex entrou na dança.





Pagando uma aposta, entrei na água de colete salva-vidas para tirar uma foto - o guia mais calorento do grupo (risos). Depois do banho, o vento não deu muito espaço para ficarmos molhados na praia, e tinhamos ainda que empurrar o Vivamar para fora de Whalers as 11h30. Foi o que fizemos ! paramos do lado do barco italiano como que dizendo "sai fora !" até que levantaram âncora e deixaram espaço para nós.


Descemos rapidamente para Whalers e caminhamos entre os prédios, apenas para tirar fotos. Não mais do que 45 minutos em terra e o suficiente para congelarmos um pouco pelo vento frio e o corpo quente do banho anterior. Subimos a bordo para o almoço enquanto o navio se deslocava para Half Moon em Livingston.


Por ali, após o almoço, o vento parou e o sol abriu firme e forte, tanto que pudemos ir caminhando até a base argentina Almirante Câmara, fechada como sempre ! e com mais lixo na praia. Encontramos uma bóia de pesca flutuando calmamente na baía empurrada pelos ventos praia acima. Ficamos uma boa hora por ali, com as águas tranquilas de Half Moon e alguns poucos pinguins curiosos (abaixo um mosaico de Media Luna).







Voltamos para o barco para a janta e o famoso concurso fotográfico, que acabou nos trazendo uma surpresa. Pela primeira vez em 3 anos (segundo Shoshana), o ganhador do prêmio, um vinho chileno de US$ 200,00, decidiu matar a garrafa com os guias ! vinho delicioso, saborado com queijos finos em uma mesa do bar do navio. maravilha !


Seguimos para Frei calmamente, com tempo de sobra para arrumar todas as coisas. Infelizmente baixamos âncora só a meia noite, e por isso não liguei para o Brasil. Deixei minha mala pronta para mais uma troca de cabine. Afinal, Diana iria chegar no próximo vôo. Apesar do cansaço, fui dormir bem tarde, mas contente por mais um dia proveitoso e bonito. Fui dormir sonhando com minha casa em Santos, apesar das boas lembranças do dia.

28/12 Lemaire - Vernadsky - Peterman e BBQ




"Bom dia a todos. São 7h30 e estamos entrando neste momento no Canal de Lemaire. A ponte está aberta para aqueles que quiserem acompanhar a entrada, como também as cobertas externas do barco". Fui acordado pela voz de Sebastian no auto-falante do navio, anunciando a entrada no Canal de Lemaire. Sono....muito sono ! Mas enfim, tenho que levantar. Ainda deu tempo de ver uma ou duas baleias nadando na volta do navio antes de descer para o café da manhã. Entramos nas Ilhas Argentinas as 9h00 em ponto e começamos a operação de desembarque logo em seguida. O navio desta vez parou bem na frente da estação ucraniana Vernadsky, dentro do estreito canal que separa as duas ilhas principais.





Logo estavam todos na frente da estação e quando me preparava para entrar, Sebastian chamou a todos convidando para um "passeio privado" do grupo Staff. Aproveitamos que todos os passageiros estavam em boas mãos ucranianas e saimos todos (Sebastian, Sho, Alex, Doc e eu) em um Zodiac pelos canais estreitos até Skua Creck, um pouco mais ao sul. Foi uma surpresa pois encontrei o "Santa Maria Australis" fundeado e escondido no meio de duas ilhotas. Que veleiro maravilhoso ! quero ter um destes.


Um pouco mais adiante deste ponto paramos próximos a uma casinha pequena com a bandeira inglesa e dois carpinteiros. Eles estão reconstruindo uma antiga estação inglesa que servirá de museu, assim como Port Lockeroy. Achei bárbaro. Provavelmente no próximo ano poderemos passar por ali. Os canais são fantásticos para se parar com um veleiro, e as águas do canal profundo está cheio de focas e baleias.





Voltamos para pegar todos os passageiros e fazer um passeio de zodiac pelos canais. Vimos várias focas caranguejeiras descansando por ali, algumas skuas sobre as pedras, e uma infinidade de formas variadas de icebergs. Como a área das Ilhas Argentinas é muito rasa, a maioria dos grandes icebergs que migram de sul para norte acabam parando por ali. É um estacionamento de icebergs. Ficamos por uns 40 minutos entre os blocos de gelo, até voltarmos para o barco, primeiro Sho e eu em zodiacs diferentes. Os outros seguiam bem atrás. Dai aconteceu ! até o momento foi o ponto mais cômico da viagem.


Parei o zodiac como de costume na passarela do navio e desembarquei meus 11 passageiros. Mika, o oficial da ponte me avisou pelo rádio para deixar o zodiac amarrado na popa ao invés de subi-lo com o guincho. Essa manobra é comum para os russos, pois o barco fica amarrado na popa e o piloto tem que "saltar" para dentro do navio, que tem uma diferença de altura de uns 1,80 m entre o Zodiac e a borda. Fácil ! para um russo de 1,90 como a maioria por aqui. Na primeira tentativa, eu simplesmente fiquei pendurado pela borda, e o zodiac se afastou da borda no mesmo instante. Ou seja, fiquei pendurado como um perfeito imbecil enquanto que Yuri, o oficial de convés me olhava meio atônito sem saber o que fazer. Após uma série de impropérios em várias linguas, Yuri entendeu o meu "Take the F. rope again !" e mais alguns palavrões em espanhol e portugues, e puxou a cordo do zodiac novamente. Com isso ganhei pé e pelo menos me livrei do banho de água gelada. Seria no mínimo ridículo ser o único a cair na água em toda a viagem ! Pensei meio rápido e aproveitei uma pequena onda para dar um impulso na borracha do zodiac e pular os 10 centimetros que me faltavam em altura. Pode parecer pouco mas fez uma diferença enorme ! consegui me apoiar com mais firmeza na borda e depois de mais uns impropérios, rolei para dentro do barco. Que situação mais ridícula ! Yuri, primeiro assustado com a possibilidade de me ver dentro d'água, passou ao riso aberto, enquanto que eu ficava entro o "F." e o "S." (em inglês em alto e bom tom!).





Passado o susto, almoço rápido e mais uns 30 minutos de navegação, fundeamos na frente de Peterman Island. O sol abriu firme e forte, requerendo uma camada extra de protetor solar. Descemos as 3 da tarde na ilha e caminhamos dispersamente pela pinguineira de adélies, papuas e alguns cormorões de olho azul. Os filhotes estavam enormes. De repente, no meio de todas as pedras, alguma coisa me chamou a atenção e lá estava um pedaço enorme de um tronco fossilizado. A arvore devia ser bem grande e obviamente, não havia uma floresta ali. Esse pedaço deve ter sido trazido pela geleira da ilha que retrocedeu muito nos últimos milhares de anos. Ainda é possivel ver os diversos terraços dos antigos períodos de deglaciação. Ainda encontrei um pouco mais acima, cerca de uns 25 metros acima do nível do mar, uma paleopraia - um conjunto de pedras roliças, arredondadas pelo mar, provavelmente naquele nível a milhares de anos atrás. Essas são as maiores provas das alterações climáticas de longo curso durante a história geológica da Terra. Ainda nos deliciamos um pouco pela ilha, entre as diversas pinguineiras, e voltamos ao navio já com o vento querendo chegar na casa dos 20 nós, mas ainda com muito sol.





Mais 30 minutos de navegação e entramos em Girard cove, para nos abrigarmos sobre um paredão de rocha e neve, especialmente preparados para o churrasco antártico tradicional. Sol e nada de vento, muita gente jovem a bordo nessa viagem, e o churrasco transcorreu como a comédia tragi-cômica de sempre: bêbados de fim de festa e música russa da pior qualidade. Eu sai depois da segunda garrafa de vinho quebrada rolando pelo convés, já cansado e com muito sono.


Amanhã espero que o tempo continue firme. Iremos a Baía Paraíso, Skontorp e Neko.

29/12 Paradise Bay - Skontorp - Neko




Paradise Bay é sempre o que diz seu próprio nome - um paraiso. Mas nesse dia meio nublado e com vento fraco, o cinza do seu se misturou um pouco ao branco da neve e ao preto das poucas rochas a vista. Como de costume acordamos com Sebastian na sua fala matinal, café em 15 minutos (pontualmente as 8h00). Eu já tinha sido escalado para dirigir um zodiac por Skontorp e rapidamente coloquei minhas roupas. Descemos primeiro Sho e eu para esperarmos por Sebastian e Alex nos outros dois zodiacs, além de Yuri e doc no quinto zodiac. A idéia era passear por Skontorp e quem sabe, ver um desprendimento de gelo. Mas o vento não deu muita trégua e apesar de fraco, estava chato e úmido. Tentei evitar ao máximo que os passageiros se molhassem mas com algumas cruzadas de proa com Sebastian e Alex, acabei ensopando alguns deles.





Logo após o passeio, desembarcamos em Brown para a foto do grupo, mas 4 passageiros desistiram do desembarque e voltei ao navio com eles. Passei o zodiac ao Doc que manejou tranquilamente de volta a praia, e logo fui escalado por Sebastian a subir o glacier ao lado para ajudar com o grupo afoito que subiu a neve congelada e dura atrás da estação argentina. Nada de escorregar na neve desta vez, pois estava meio perigoso.


O frio obrigou muita gente a desistir logo de ficar admirando a paisagem e descemos pouco depois. Embarcamos para o navio com uma fome do cão e muitos passageiros ainda congelando. Várias baleias ao longe pescavam tranquilamente no canal de Lemaire.





Após o almoço fizemos Neko Harbour, como sempre tranquilo - praia, pinguins, escalada de neve e Shoshana's point bem no alto da geleira. Na foto ao lado, a palhaçada de sempre - o homem mais forte do mundo (Alex) também conhecido como "homo catalanis antarcticus". Desta vez subi apenas até a metade para controlar os passageiros que desistiram no meio do caminho. A neve estava muito dura e não dava nem sequer para caminhar direito sem tomar um escorregão. Não deu muito tempo para os passageiros começarem a abandonar o pico e descer para a praia. Zodiacs servidos, passageiros transportados e uma janta maravilhosa do mestre Marcelo esperando por nós.





Era o começo da noite com deslocamenteo para Deception, navegando rumo norte pelo estreito de Bransfield. O fim de tarde estava magnífico, com um por de sol e nuvens de uma pintura. Mesmo com o vento frio a noite foi de tirar fotos. Decidi ainda por uma bela e quente sauna noturna antes de dormir. Devidamente relaxado, não me lembro nem com o que sonhei...mas dormi profundo.

27/12 Foyn - Curveville - Port Lockeroy

O dia amanheceu tranquilo e parcialmente encoberto, mas com luminosidade suficiente para vermos todo o esplendor do Canal de Gerlache. Algumas baleias nadavam a distância do barco e o vento praticamente parou de soprar. O cenário era no mínimo bucólico. Um belo dia para comemorar o aniversário de minha irmã Zila - parabéns Zila !! Tentei ligar para o Brasil mas alguma coisa não estava funcionando muito bem no telefone via satélite. Acho que a antena tinha se desconectado. Deixei para tentar mais tarde.





Um pouco antes do café da manhã já estavamos parando próximos a Foyn Harbour. As 9hs já estávamos todos a postos com os zodiacs para um passeio entre as rochas deste lugar raso, praticamente sem pinguins, mas com muita história. Aqui vários baleeiros no passado usaram a área para descanso e corte de baleias e focas. Um foqueiro naufragado e abandonado é um marco histórico, e de um tempo que a maioria quer esquecer. Várias Sterns antárticas e árticas voavam por ali. Deve haver um ninho enorme no naufrágio.





Ainda seguimos por mais uma hora pelas voltas da Ilha Enterprise e da Ilha Nansen, explorando o local. Voltamos ao barco já por volta de 11h30, mortos de fome. Seguimos pelo almoço já por fora do canal Errera e de volta a Gerlache, onde rumamos para Ilha Curveville. Ali existe uma pinguineira gigantesca, com mais de oito mil pinguins papua. Ficamos por mais de duas horas visitando a pinguineira e avistamos do outro lado da baia o "Kotic", um veleiro de expedições antárticas bastante conhecido e bem referenciado nos livros de Amyr Klink. Deu vontade de navegar a vela um pouco pela região.





Voltamos a bordo no fim da tarde para tomar rumo à Port Lockeroy. Jantamos rapidamente e já no fim do serviço fundeamos nas águas tranquilas e calmas de Port Lockeroy. Um desembarque surpresa pois era o terceiro evento do dia. Maravilhoso ! Consegui tirar fotos do mesmo ninho que dias antes eu tinha visto um pequeno pinguim quebrar a casca do ovo. Agora os filhotes estavam um pouco maiores mas ainda sob os cuidados da mãe. Mandei alguns postais e comprei um livro, e logo em seguida comecei a organizar a volta. Eu estava operando um dos zodiacs e tinha que fazer algumas viagens para o navio levando passageiros. No caminho, encontramos um elefante marinho juvenil descansando nas pedras. Será que é parente do Teobaldo ? o elefante marinho que o Amyr encontrou por aqui anos atrás ?


Voltamos ao barco agora com visitas. As 4 meninas de Port Lockeroy vieram para um pequeno coquetel e a conversa foi até as 23 horas. Tentei ligar novamente para o Brasil mas ainda o telefone parecia não coperar. Bem, Zila vai receber os parabéns pelo blog ! Desculpa maninha !





Sebastian e eu pegamos novamente o Zodiac para levar as meninas de volta para a base e no caminho, uma foca leopardo simplesmente ficou encarando nossa barco. Fantástico ! Jamais pensei que iria terminar a noite vendo uma foca leopardo tão de perto - e ainda por cima caçando ! Agora são 3 da manhã e estou por aqui fazendo aquele trabalhinho que não pode ser adiado - lavando roupa e ajeitando minha cabine. Espero ainda dormir um pouco antes de começarmos a navegar rumo ao sul.

26/12 FREI FREI FREIIII

Acordei logo depois do cochilo, por volta das 6 hs com o barco praticamente parado. Estávamos fundeados a frente da base sul coreana King Sejong. Vento na casa dos 20 nós e uma densa camada de neve recobria tudo. O céu estava muito cinzento e pouco convidativo. Mas pelo menos estávamos parados !





Café da manhã à jato pois mal levantei já me deparei com o caos - vôo saindo de Punta Arenas as 8hs. Tivemos que correr com todas as coisas e nos apressar em terminar os afazeres pois a troca de passageiros iria ocorrer dali a pouco. No entanto o vento não dava trégua e até aumentava. Mudamos de posição, mais para perto da base chilena, e mesmo assim o mar e o vento estava de lascar. Alex desembarcou as bagagens e eu fui organizar os salva-vidas para os novos passageiros. Em menos de meia hora estávamos voando e nos ensopando nas ondas da baia Fields com os zodiacs de um lado para outro. Uma loucura.





O avião chegou pontualmente as 11hs e já estávamos com todos os passageiros aguardando, alguns molhados e outros nem tanto. Para a minha surpresa, olhei para a baia e vi um símbolo conhecido "SABESP" (!) Que diabos um barco com o símbolo da Sabesp estava fazendo ali na Antartica ? Era o "Mar Sem Fim", o barco que viajou pelo litoral brasileiro fazendo filmagens da costa. Eles tinha saido de Port Williams e atravessado o Drake, mas a 140 milhas da chegada a ilha Nelson, quebraram os dois reversores, que fazem o barco andar ! Ficaram a deriva até serem resgatados por um barco chileno. Agora estavam desmontando o reversor para verificar qual peça teriam que comprar no Brasil e enviar por avião até Frei. Loucura total - o Drake com um barco de 20 metros e pouco mais que 5 metros de largura.





Zarpamos a toda máquina para a península, por volta das 5 da tarde. Dei uma breve palestra as 18 hs e fomos a janta - Lomo Argentino Grelhado - delicious ! Agora estamos passando ao largo de Deception, já no meio do Bransfield, estrranhamente calmo desta vez. Rumo 260 - Foyns Harbour. E eu vou dormir.

24/12 ho ho ho Natal em Skontorp

Dia 24/12, véspera de Natal, agora a saudades bateu bastante forte. Quando isso acontece prefiro ficar com meus pensamentos. A popa é o melhor lugar de todos para isso pois tem uma vista maravilhosa do mar e pouco vento.





O dia amanheceu com bastante sol e poucas nuvens, e parece que estamos flutuando no meio de bolos cobertos de glacê. Entramos em Paradise Bay para fundear próximo a base Almirante Brown (Argentina - que está fechada). Dividimos os passageiros em dois grupos. O primeiro grupo com 28 pessoas, desceu em terra (neve) com Alex e Doc para uma caminhada na volta da estação argentina. O segundo grupo ficou com Sho e comigo, em dois Zodiacs, para um passeio em Skontorp. Foi legal, tirando o fato de que quase arrebentei o hélice em uma pedra logo de saída. Passeamos dentro de Skontorp por boas duas horas, até que no final, pouco antes de subir a bordo novamente, avistamos o veleiro Anne Margherita (foto abaixo), derivando ao longo do canal enquanto os passageiros deles desciam em terra. Além disso, vimos um dos pinguins albinos da estação Videla (Baia Paraiso) na praia tomando sol.







Assim que cheguei a bordo liguei para minha mãe e falei com Mariana, que estava passando o dia de véspera de Natal na minha casa. Saudades imensas ! Minha familia estava toda lá e imagino a festa que estavam fazendo.





Tivemos um almoço muito bom a bordo e logo em seguida tomamos curso para Neko Harbour. O dia estava realmente lindo com muito sol, o que nos proporcionou momentos fantásticos na praia. Sem vento, decidi molhar os pés na água gelada e incrivelmente, a areia estava deliciosamente quente. Os pinguins estavam literalmente suando e ficamos um bom tempo na praia. Foram horas fantásticas com o céu azul e muito sol. Infelizmente tudo tem seu preço e tenho certeza de que um tempo muito ruim (meteorologicamente) está por vir nos próximos dias.


Voltamos para o barco as 17h30, para um rápido descanso seguido de shopping time da Antarctica XXI para os passageiros. Fiquei ajudando na venda das camisetas e logo as 19hs começou a ceia de natal a bordo. Gemma me fez vestir a fantasia de Papai Noel e foi no mínimo divertido jantar fantasiado.





Logo depois da janta tomamos curso para Deception, com uma pausa de mais de uma hora ao redor de uma baleia corcunda com a cauda toda preta. Tiramos várias fotos e espero que possa usar alguma das caudas para identificar as ditas.


Agora a meia noite teremos uma champagne no bar mas não sei se vou. Estou cansado e com muito sono. Sei que o dia será cheio amanhã. Vou sonhar com o Brasil e com as baleias por aqui.

25/12 A decepção de Deception - False Bay e Las Olas




O noite não foi tranquila. Ventos fortes e ondas de lado não deixaram ninguém dormir direito. Imagino que o Drake deva estar um inferno pois atravessando o estreito de Bransfield estava bem ruim. Chegamos a Deception logo cedo pela manhã e já entramos pois do lado de fora não estava agradável ficar. A foto ao lado mostra o mar picado bem na entrada de Deception. Pouca visibilidade e vento aumentando a cada minuto, largamos âncora para um café calmo em Whalers Bay. Não deu para baixar os Zodiacs pois o vento chegou em 40 nós antes do fim do café. Plano B acionado - navegamos direto para Livingston, com ondas de 2.5 m à 3 m e vento sempre subindo. Resultado da brincadeira - metade do navio mareado.





Chegamos para o almoço em False Bay e por mais incrivel que pareça lá estava bem tranquilo. Sem vento e tempo encoberto, a baía que descobrimos na última viagem estava repleta de pequenos blocos de gelo. Bom passeio para zodiacs. Baixamos 4 deles, dirigidos por Sebastian, Sho, Alex e eu. Já nos primeiros minutos, descobrimos que uma população enorme de focas leopardo descansam por aqui. Avistamos praticamente umas 20 delas em diferentes blocos de gelo, descansando. Passamos mais de duas horas nos botes, andando pelo gelo da baia. Mas não precisou de muito para o vento começar a subir e os passageiros reclamarem de frio. Voltamos para o barco e imediatamente levantamos âncora com rumo para Livingston Media Luna.


O mar implacável bateu nos 3 metros de onda com ventos de até 50 nós. Ai foi o desastre da orquestra ! Eu mareei brabo e nem sem mais o que aconteceu, pois preferi ficar na minha cabine quietinho deixando o mar passar.


Só fui levantar já em Fields (passamos por Media Luna e nem paramos, com o mar osso que estava), com metade do barco coberto de neve fresca e o vento ainda nos 20 nós. Visibilidade nenhuma, apesar de que vejo as luzes de Artigas, a base uruguaia do outro lado de Fields. Nos escondemos aqui dentro, longe do mar revolto, para um pouco de sossego. São 2 da manhã e tomei uns pratos de sopa com torrada. Praticamente o barco inteiro dorme, fundeado por aqui. No rádio escutei uma conversa dos chilenos dizendo que não irão permitir vôo pela manhã por causa das condições meteorológicas, mas vou esperar o dia começar para ver isso ao certo.


Agora, vou tentar cochilar umas horinhas, pois com o balanço que estava, até em pensamento dava para enjoar.

23/12 Vernadsky Station - Peterman Island & BBQ

Acordei meio atordoado, meio sonâmbulo, em meio ao movimento leve do barco entre gelo. Fui até a janela e percebi que estavamos pelo Estreito de Lemaire. O chamado da ponte sobre "baleias a frente!" logo me acordou. Subi a ponte e estava tudo calmo, apenas uma baleia descansando no canal, o que me fez sentir mais vontade de um bom café da manhã.





Estávamos nos aproximando da Ilha Booth em direção as Ilhas Argentinas e a base ucraniana de Vernadsky. Aqui, pela primeira vez lá pelos idos de 1970, o buraco na camada de ozônio foi descoberto, juntamente com os ingleses da base Harley. Desembarcamos as 9h30 com todos os passageiros para descobrir essa maravilha de base antártica. Tudo limpo e organizado, áreas abertas e um conforto descomunal. Comprei um patch para a mochila e tirei várias fotos.


Voltamos a bordo para o almoço e seguimos um pouco adiante, até Peterman Island. Ficamos por ali parados até as 15 hs quando desembarcamos para visitar a colônia de pinguins Papua e Adélies. Os filhotes de Cormorões de olho azul estavam bem grandes e vários ninhos de Adélies estavam com filhotes. Demos uma boa caminhada pela ilha até o ponto mais alto. Achei super interessante também as rochas, granitos com várias inclusões basalticas, provavelmente mais antigas. Diques de basalto, fissuras cobertas por óxido ferroso, e vários matacões embutidos na matriz granítica. Não imaginava que isso existia aqui. Vou tentar procurar um pouco mais sobre a geologia da Península.





Na hora de voltar a bordo, deparamos com uma foca leopardo destroçando um pinguim. Também achei curioso pois sempre pensei que as focas engoliam quase que por inteiro o pinguim, mas ela tirava aos pedacinhos pequenos, ajudando com as patas dianteiras. Impressionante ! Além do espetáculo da foca, uma baleia estava pescando bem perto do barco.





Conforme programado, iniciamos o churrasco antártico as 19 hs com direito a vinho quente. Desta vez o tempo coperou e apesar do frio de 4 graus na popa, a ausência de vento tornou o local mais confortável. Tinhamos carne argentina, salsichas, frango, costela e mais algumas coisas não identificáveis da cozinha russa, além de saladas e bebida a vontade. Obviamente, não podia terminar sem o "baile" tocado pelo "Micha" (segundo oficial Mikael) e Gemma, sempre tocando fogo no povo.


Não fiquei muito tempo na esbórnia e ainda dei uma passada pela ponte, onde o capitão separava velhas cartas náuticas para jogar fora. Vamos ficar por aqui em Girard Bay, logo na entrada do canal de Lemaire, para passar a noite confortavelmente abrigados entre os paredões da baía. Amanhã seguimos para baía Paraiso, Skontorp e Neko Harbour.


Buenas Noches.


PS: Hoje entrei exatamente na metade da viagem, por isso, como manda a tradição, tirei a barba. Fiquei estranho ! espero não sentir muito frio depois disso.