As milhas finais do Drake foram mais tranquilas do que esperava. Ventos de 25 nós e ondas picadas mas regulares. Tivemos que reduzir a velocidade um pouco pois chegamos muito cedo a Cape Horn. Assim que acordei subi a ponte para ver o cabo. A combinação de sol e rochas sob o céu azul e o mar cobalto eram fantásticas. Vimos alguns barcos grandes saindo da baia Nassau - o Hanseatic e o Terra Australis. Navegamos por mais de 50 milhas a uma velocidade bem baixa, só para esperar o prático, que entrou no barco por volta das 15 hs. Ainda navegamos por mais 4 horas até chegarmos a Port Williams.
A manobra de atracação foi simples e rápida, e para a minha surpresa, quem eu vejo ancorado um pouco além do cais ?! o Paratii II de Amyr Klink. Pelo que pude entender eles tinham acabado de chegar. Não falei com ninguém da tripulação e pelo visto, devem estar todos dormindo depois de uma navegação pesada. Vi algum movimento de bote indo e vindo da base naval, onde se realiza o checkin de documentos para entrada no Chile, e depois silêncio no barco.
Jantamos no navio e logo depois descemos a terra para visitar um lodge chamado Lakutaia. Lindíssimo - apesar do vento frio cortante da noite fueguina. Ali pude ao menos usar um pouco a internet e falar com o Brasil. Não consegui falar com a Mari, mas pelo menos com minha mãe eu conversei. Retornamos para o navio as 23 hs com um problemão enorme - aparentemente o visto de trabalho de Sho, Sebastian e de Diana estavam vencidos. Os tres foram levados até o escritório da imigração e só retornaram por volta das 3 hs da manhã com a notícia de que teriam que desembarcar ali e não poderiam seguir viagem (nem sair do Chile). Estavam presos na base naval. Que situação ! isso significava que na manhã seguinte, toda a faina de desembarque e liberação do barco em Ushuaia ficaria comigo e com Doc. Trabalho e mais trabalho !
Zarpamos por volta das 3h30 para Ushuaia e consgui dormir um pouco. Achei até que poderia dormir um pouco mais mas as 6hs Doc me acordou com os policiais da imigração argentina. Era hora de trabalhar ! Passaportes carimbados e vistos concedidos, as 07h30 já estávamos na função de acordar a todos e organizar o desembarque. Aos poucos os passageiros foram se dispersando e saindo do barco. Uma hora a fila de vans na frente do barco chegou a quase o comprimento do mesmo no cais. Ainda tinhamos várias tarefas para terminar e por volta das 10 hs um carro nos esperava (doc e eu) para nos levar ao escritório do agente naval em Ushuaia. Mas quem disse que conseguiamos terminar ?! No último dia, no último minuto de viagem, um membro da tripulação se descuidou e bateu com a cabeça de frente no guincho de transporte de carga. Resultado: um corte profundo de uns 20 cm da testa até a boca passando pelo nariz. Nada muito grava, mas obrigou Doc a descer até a enfermaria para costurar o descuidado, e eu me sobrecarreguei com o translado de passageiros e bagagens. Decidimos enviar nossas bagagens para o escritório do agente naval e depois seguir a pé. Nada complicado. Já eram 13hs quando sentamos em um restaurante para comer alguma coisa. Uma última foto do cais com 5 navios de turismo antártico e seguimos para o agente naval.
As 15 horas já estávamos no aeroporto (lotado como sempre) com mais de 120 kilos de bagagem e equipamentos (sim...porque afinal Sebastian, Sho, Diana e Alex tinham ficado em Lakutaia e Doc e eu apenas teriamos que transportar tudo para Punta Arenas). Malas despachadas, ainda enfrentamos uma fila enorme na imigração lotada de alemães e americanos de 3 diferentes navios. O vôo até que foi rápido e o desembaraço aduaneiro também. Chegamos a Punta Arenas no fim da tarde e ao longe pude ver o Almirante Maximiliano e o Ary Rongel, os dois barcos da Marinha do Brasil que vão à Antártica, atracados no cais de reparo. Parece que ambos estavam com problemas e por isso o vôo brasileiro para a Antártica tinha sido adiado.
Fomos diretos ao escritório da Antártica XXI para finalizar contratos, fazer recebimentos e preencher uma papelada sem fim - e finalmente as 20 horas estavamos livres para um banho (merecido) e uma janta tranquila no hotel. Para nossa surpresa, encontramos Alex, que tinha voado de Port Williams a pouco para Punta Arenas, e a festa estava completa. Ainda conversei com Diana, Sho e Seba pelo skype, despedidas sem fim, e também finalmente consegui falar com Mariana. Que saudades !!! mas agora falta muito pouco.
Terminamos a noite, os três amigos, em um bar da cidade, para apreciar um bom pisco sauer, e me enfiei na cama já na madrugada do dia 7.
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