Este blog contém o relato da viagem à Antártica realizada como guia da empresa ANTARCTICA XXI, entre dezembro de 2009 e janeiro de 2010. Por ser um Blog, a ordem cronológica dos eventos postados é reversa. Para ler desde o início, navegue pela barra lateral a direita. Para a primeira página do blog, siga este link http://diarioantartico2009.blogspot.com/2009/10/preparativos.html

Boa Leitura.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

01/01/2010 ! Walkers (Hanna Point) & Baily Head/Pendulum (Deception)




Guerra de Neve !!! Finalmente começamos uma guerra de neve das boas. Tripulação, passageiros e staff, com a neve acumulada das últimas horas sobre os botes e tiros para todos os lados. Tomei um balaço de neve na cara que me deixou tonto. Mas também coloquei o Doc e Sebastian pedindo água. A meia-noite do ano novo, subimos a ponte de comando e desejamos Feliz Ano Novo no canal 16. Apenas um respondeu. Estávamos atracados em Discovery Bay, perto da estação Arturo Pratt (Chile), com o "Dione Sky" ancorado na nossa frente. Mal dava para ver o barco de tão forte que foi a nevasca da noite. Temperaturas lá fora por volta de zero grau, mas dentro do navio a temperatura subiu bastante. A festa foi modesta para os passageiros, mas logo descemos para a sala de jantar dos tripulantes, e ali a balada russa seguia solta. Entre mortos e feridos, salvaram-se todos, apesar da dor de cabeça da vodka russa. Fui para a cama as 2h00 com uma saudade imensa de casa.





Acordei cedinho no dia seguinte, as 07h30, a tempo de ver a entrada de Walkers Bay na ilha Livingston. Sinceramente, nunca tinha visto um tempo tão calmo. O mar estava com pequenas manchas de gelo formadas durante a noite na ausência completa de vento. Tomei um susto enorme quando olhei ao longe e vi uma ilha inteira atrás do navio - era Deception, a mais de 50 km dali. Na foto ao lado, dá para ver Deception ao fundo. A visibilidade era magnífica. Pessoalmente, eu nunca tinha visto Deception inteira e desprovida de nuvens. Hanna Point, nosso destino, se sobressaía ao gelo branco da baía Walkers. Ali tem uma colônia não reprodutiva de elefantes marinhos, vários ninhos de Petrel Gigante (Macronectes giganteus) e uma maravilhosa colônia de pinguins gentoos com alguns macarronis no meio. A primeira visada com o binóculo, avistei uma bóia de pesca laranja no canto da pinguineira - Lixo marinho. Ficamos de recolher na volta.





O desembarque em Hanna Point é dificil por causa do Swell. Ondas oceânicas lavam a praia com qualquer tempo e o vento atrapalha bastante o equilíbrio do barco. Mas nessas condisções perfeitas que encontramos, o desembarque foi tranquilo. Sho, Sebastian e eu descemos primeiro para vistoriar a área e localizar os grandes elefantes marinhos. A tática escolhida foi concentrar os passageiros em um pedaço limpo da praia e andarmos depois em fila, através da colônia de elefantes. Vários animais descansavam pela praia mas não avistamos nenhum grande macho. Apenas jovens e algumas fêmeas gordinhas. Uma foca caranguejeira e alguns pinguins também passeavam por ali.





Caminhamos por mais de uma hora entre a praia e a colônia, subindo cada vez mais a encosta íngrime de Hanna Point. Lá em cima era possivel ver Deception em todo o seu explendor, além da visão total e completa da área de Walkers Bay. Um Petrel Gigante apenas nos observava de seu ninho, atento mas ao mesmo tempo conformado com todo aquele movimento. Encontramos um pouco de lixo na praia - os restos de uma garrafa de coleta de água (científica), um frasco de amaciante de roupas vazio, e um fundo de uma garrafa de plástico. Estou impressionado como perto das Shetlands encontramos tanto lixo !





Na volta para a praia, ainda demos uma parada no museu a céu aberto de Livingston - uma bancada de pedra com vários exemplares fósseis de plantas, folhas e galhos, árvores petrificadas, rochas e ossos de vários mamíferos marinhos. Depois de uma hora embarcamos todos os passageiros para o navio e ainda fiquei no último bote para a operação de resgate da bóia lixo flutuante na praia - uma velha bóia de pesca laranja já semi vazia e um pouco destruida. Voltamos todos satisfeitos ao navio e já tomamos rumo para Deception, visita planejada para depois do almoço.





No entanto, o tempo estava tão bom, mas tão bom, que mudamos de planos. Baily Head é uma falésia proeminente no lado sudeste da Ilha Deception, do lado externo. A praia tem uma inclinação absurda, quase ingrime e com as ondas e vento é praticamente inacessível. Mas com aquele tempo, tinhamos que ter sorte. Descemos novamente Sho, Sebastian e eu para ver se era possivel um desembarque rápido, o que realmente aconteceu. Apesar da praia de tombo, sem swell e sem vento ficou fácil descer os passageiros.





Ali tem uma colônia de Chinstraps, ou pinguins-de-barbicha, com pelo menos um milhão (isso mesmo ! um milhão !!!) de indivíduos. A Pinguim Railway dali é monstruosa ! São centenas de pinguins indo e vindo por minuto, alheios a nossa presença. A praia parecia Copacabana em domingo de sol, mas ao invés de banhistas, tinhamos pinguins. Fiquei maravilhado e surpreso com a altura que os ninhos alcançavam. Os morros próximos, com bem mais de 100 m de altura, tinham ninhos por todos os lados. Impressionante !





O dia não tinha terminado e embarcamos novamente todos com destino a parte de dentro de Deception. Desta vez fomos a Pendulum Cove, para um banho de água quente. Eu estava com frio e desta vez decidi não entrar na água. Mas o povo amou e entrou mesmo. Uma das passageiras, de oruigem nórdica, ficou mais de 15 minutos nadando de um lado para outro, enquanto que o marido corria pela praia. Foi no mínimo divertido. Embarcamos mais uma vez todos os passageiros para a janta, e ainda cruzamos com o Polar Pionner fundeado em Whalers, na entrada da ilha. A foto ao lado mostra a passagem de saída de Deception. Nosso rumo era sul - através de um Bransfield calmo e sem ondas, com poucas nuvens no céu e uma noite maravilhosamente calma. Eu coloquei um filme para os passageiros (Marcha dos Pinguins) as 9h00 em ponto e fui dormir. O cansaço tinha vencido.

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