Este blog contém o relato da viagem à Antártica realizada como guia da empresa ANTARCTICA XXI, entre dezembro de 2009 e janeiro de 2010. Por ser um Blog, a ordem cronológica dos eventos postados é reversa. Para ler desde o início, navegue pela barra lateral a direita. Para a primeira página do blog, siga este link http://diarioantartico2009.blogspot.com/2009/10/preparativos.html

Boa Leitura.

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

24/12 - 28/12 do Sol ao Furacao

Sao 23:12 hs do dia 28/12 e apesar de apenas 4 dias terem se passado
desde o ultimo post, e' impressionante como o tempo voa e as condicoes
mudam. A Antarctica e' uma caixinha de surpresas, algumas boas e outras
nao tao boas. Nos ultimos 4 dias tivemos tempo variando de
maravilhosamente aberto a quase furacao. Incrivel !
Dentro de mais dois dias estaremos finalizando a penultima pernada da
viagem. Dia 31/12 estarei em Frei para receber mais um grupo e deixar
este. Ja' estou em contagem regressiva para a volta. Muitas saudades de
todos.

--- 24/12 Vespera de Natal (Continuacao) ho ho ho Natal em Skontorp

O dia amanheceu com bastante sol e poucas nuvens, e parece que estamos
flutuando no meio de bolos cobertos de glace. Entramos em Paradise Bay
para fundear prуximo a base Almirante Brown (Argentina - que esta'
fechada). Dividimos os passageiros em dois grupos. O primeiro grupo com
28 pessoas, desceu em terra (neve) com Alex e Doc para uma caminhada na
volta da estacao argentina. O segundo grupo ficou com Sho e comigo, em
dois Zodiacs, para um passeio em Skontorp. Foi legal, tirando o fato de
que quase arrebentei o helice em uma pedra logo de saida. Passeamos
dentro de Skontorp por boas duas horas, ate' que no final, pouco antes
de subir a bordo novamente, avistamos o veleiro Anne Margherita,
derivando ao longo do canal enquanto os passageiros deles desciam em
terra. Alem disso, vimos um dos pinguins albinos da estacao Videla (Baia
Paraiso) na praia tomando sol.

Assim que cheguei a bordo liguei para minha mae e falei com Mariana, que
estava passando o dia de vespera de Natal na minha casa. Saudades
imensas ! Minha familia estava toda la' e imagino a festa que estavam
fazendo.

Tivemos um almoco muito bom a bordo e logo em seguida tomamos curso para
Neko Harbour. O dia estava realmente lindo com muito sol, o que nos
proporcionou momentos fantasticos na praia. Sem vento, decidi molhar os
pes na agua gelada e incrivelmente, a areia estava deliciosamente
quente. Os pinguins estavam literalmente suando e ficamos um bom tempo
na praia. Foram horas fantasticas com o ceu azul e muito sol.
Infelizmente tudo tem seu preco e tenho certeza de que um tempo muito
ruim (meteorologicamente) esta' por vir nos prуximos dias.

Voltamos para o barco as 17h30, para um rapido descanso seguido de
shopping time da Antarctica XXI para os passageiros. Fiquei ajudando na
venda das camisetas e logo as 19hs comecou a ceia de natal a bordo.
Gemma me fez vestir a fantasia de Papai Noel e foi no minimo divertido
jantar fantasiado.

Logo depois da janta tomamos curso para Deception, com uma pausa de mais
de uma hora ao redor de uma baleia corcunda com a cauda toda preta.
Tiramos varias fotos e espero que possa usar alguma das caudas para
identificar as ditas.

Agora a meia noite teremos uma champagne no bar mas nao sei se vou.
Estou cansado e com muito sono. Sei que o dia sera' cheio amanha. Vou
sonhar com o Brasil e com as baleias por aqui.

--- 25/12 A decepcao de Deception - False Bay e Las Olas

O noite nao foi tranquila. Ventos fortes e ondas de lado nao deixaram
ninguem dormir direito. Imagino que o Drake deva estar um inferno pois
atravessando o estreito de Bransfield estava bem ruim. Chegamos a
Deception logo cedo pela manha e ja' entramos pois do lado de fora nao
estava agradavel ficar. Pouca visibilidade e vento aumentando a cada
minuto, largamos вncora para um cafe' calmo em Whalers Bay. Nao deu para
baixar os Zodiacs pois o vento chegou em 40 nуs antes do fim do cafe.
Plano B acionado - navegamos direto para Livingston, com ondas de 2.5 m
а 3 m e vento sempre subindo. Resultado da brincadeira - metade do navio
mareado.

Chegamos para o almoco em False Bay e por mais incrivel que pareca la'
estava bem tranquilo. Sem vento e tempo encoberto, a baia que
descobrimos na ultima viagem estava repleta de pequenos blocos de gelo.
Bom passeio para zodiacs. Baixamos 4 deles, dirigidos por Sebastian,
Sho, Alex e eu. Ja' nos primeiros minutos, descobrimos que uma populacao
enorme de focas leopardo descansam por aqui. Avistamos praticamente umas
20 delas em diferentes blocos de gelo, descansando. Passamos mais de
duas horas nos botes, andando pelo gelo da baia. Mas nao precisou de
muito para o vento comecar a subir e os passageiros reclamarem de frio.
Voltamos para o barco e imediatamente levantamos вncora com rumo para
Livingston Media Luna.

O mar implacavel bateu nos 3 metros de onda com ventos de ate' 50 nуs.
Ai foi o desastre da orquestra ! Eu mareei brabo e nem sem mais o que
aconteceu, pois preferi ficar na minha cabine quietinho deixando o mar
passar.

Sу fui levantar ja' em Fields (passamos por Media Luna e nem paramos,
com o mar osso que estava), com metade do barco coberto de neve fresca e
o vento ainda nos 20 nуs. Visibilidade nenhuma, apesar de que vejo as
luzes de Artigas, a base uruguaia do outro lado de Fields. Nos
escondemos aqui dentro, longe do mar revolto, para um pouco de sossego.
Sao 2 da manha e tomei uns pratos de sopa com torrada. Praticamente o
barco inteiro dorme, fundeado por aqui. No radio escutei uma conversa
dos chilenos dizendo que nao irao permitir vфo pela manha por causa das
condicoes meteorolуgicas, mas vou esperar o dia comecar para ver isso ao
certo.

Agora, vou tentar cochilar umas horinhas, pois com o balanco que estava,
ate' em pensamento dava para enjoar.

--- 26/12 FREI FREI FREI

Acordei logo depois do cochilo, por volta das 6 hs com o barco
praticamente parado. Estavamos fundeados a frente da base sul coreana
King Sejong. Vento na casa dos 20 nуs e uma densa camada de neve
recobria tudo. O ceu estava muito cinzento e pouco convidativo. Mas pelo
menos estavamos parados !

Cafe' da manha а jato pois mal levantei ja' me deparei com o caos - vфo
saindo de Punta Arenas as 8hs. Tivemos que correr com todas as coisas e
nos apressar em terminar os afazeres pois a troca de passageiros iria
ocorrer dali a pouco. No entanto o vento nao dava tregua e ate'
aumentava. Mudamos de posicao, mais para perto da base chilena, e mesmo
assim o mar e o vento estava de lascar. Alex desembarcou as bagagens e
eu fui organizar os salva-vidas para os novos passageiros. Em menos de
meia hora estavamos voando e nos ensopando nas ondas da baia Fields com
os zodiacs de um lado para outro. Uma loucura.

O aviao chegou pontualmente as 11hs e ja' estavamos com todos os
passageiros aguardando, alguns molhados e outros nem tanto. Para a minha
surpresa, olhei para a baia e vi um simbolo conhecido "SABESP" (!) Que
diabos um barco com o simbolo da Sabesp estava fazendo ali na Antartica
? Era o "Mar Sem Fim", o barco que viajou pelo litoral brasileiro
fazendo filmagens da costa. Eles tinha saido de Port Williams e
atravessado o Drake, mas a 140 milhas da chegada a ilha Nelson,
quebraram os dois reversores, que fazem o barco andar ! Ficaram a deriva
ate' serem resgatados por um barco chileno. Agora estavam desmontando o
reversor para verificar qual peca teriam que comprar no Brasil e enviar
por aviao ate' Frei. Loucura total - o Drake com um barco de 20 metros e
pouco mais que 5 metros de largura.

Zarpamos a toda maquina para a peninsula, por volta das 5 da tarde. Dei
uma breve palestra as 18 hs e fomos a janta - Lomo Argentino Grelhado -
delicious ! Agora estamos passando ao largo de Deception, ja' n omeio do
Bransfield, estrranhamente calmo desta vez. Rumo 260 - Foyns Harbour. E
eu vou dormir.

--- 27/12 Foyn - Curveville - Port Lockeroy

O dia amanheceu tranquilo e parcialmente encoberto, mas com luminosidade
suficiente para vermos todo o esplendor do Canal de Gerlache. Algumas
baleias nadavam a distвncia do barco e o vento praticamente parou de
soprar. O cenario era no minimo bucуlico. Um belo dia para comemorar o
aniversario de minha irma Zila - parabens Zila !! Tentei ligar para o
Brasil mas alguma coisa nao estava funcionando muito bem no telefone via
satelite. Acho que a antena tinha se desconectado. Deixei para tentar
mais tarde.

Um pouco antes do cafe' da manha ja' estavamos parando prуximos a Foyn
Harbour. As 9hs ja' estavamos todos a postos com os zodiacs para um
passeio entre as rochas deste lugar raso, praticamente sem pinguins, mas
com muita histуria. Aqui varios baleeiros no passado usaram a area para
descanso e corte de baleias e focas. Um foqueiro naufragado e abandonado
e' um marco histуrico, e de um tempo que a maioria quer esquecer. Varias
Sterns antarticas e articas voavam por ali. Deve haver um ninho enorme
no naufragio.

Ainda seguimos por mais uma hora pelas voltas da Ilha Enterprise e da
Ilha Nansen, explorando o local. Voltamos ao barco ja' por volta de
11h30, mortos de fome. Seguimos pelo almoco ja' por fora do canal Errera
e de volta a Gerlache, onde rumamos para Ilha Curveville. Ali existe uma
pinguineira gigantesca, com mais de oito mil pinguins papua. Ficamos por
mais de duas horas visitando a pinguineira e avistamos do outro lado da
baia o "Kotic", um veleiro de expedicoes antarticas bastante conhecido e
bem referenciado nos livros de Amyr Klink. Deu vontade de navegar a vela
um pouco pela regiao.

Voltamos a bordo no fim da tarde para tomar rumo а Port Lockeroy.
Jantamos rapidamente e ja' no fim do servico fundeamos nas aguas
tranquilas e calmas de Port Lockeroy. Um desembarque surpresa pois era o
terceiro evento do dia. Maravilhoso ! Consegui tirar fotos do mesmo
ninho que dias antes eu tinha visto um pequeno pinguim quebrar a casca
do ovo. Agora os filhotes estavam um pouco maiores mas ainda sob os
cuidados da mae. Mandei alguns postais e comprei um livro, e logo em
seguida comecei a organizar a volta. Eu estava operando um dos zodiacs e
tinha que fazer algumas viagens para o navio levando passageiros. No
caminho, encontramos um elefante marinho juvenil descansando nas pedras.
Sera' que e' parente do Teobaldo ? o elefante marinho que o Amyr
encontrou por aqui anos atras ?

Voltamos ao barco agora com visitas. As 4 meninas de Port Lockeroy
vieram para um pequeno coquetel e a conversa foi ate' as 23 horas.
Tentei ligar novamente para o Brasil mas ainda o telefone parecia nao
coperar. Bem, Zila vai receber os parabens pelo blog ! Desculpa maninha
!

Sebastian e eu pegamos novamente o Zodiac para levar as meninas de volta
para a base e no caminho, uma foca leopardo simplesmente ficou encarando
nossa barco. Fantastico ! Jamais pensei que iria terminar a noite vendo
uma foca leopardo tao de perto - e ainda por cima cacando ! Agora sao 3
da manha e estou por aqui fazendo aquele trabalhinho que nao pode ser
adiado - lavando roupa e ajeitando minha cabine. Espero ainda dormir um
pouco antes de comecarmos a navegar rumo ao sul.


--- 28/12 Lemaire - Vernadsky - Peterman e BBQ

"Bom dia a todos. Sao 7h30 e estamos entrando neste momento no Canal de
Lemaire. A ponte esta' aberta para aqueles que quiserem acompanhar a
entrada, como tambem as cobertas externas do barco". Fui acordado pela
voz de Sebastian no auto-falante do navio, anunciando a entrada no Canal
de Lemaire. Sono....muito sono ! Mas enfim, tenho que levantar. Ainda
deu tempo de ver uma ou duas baleias nadando na volta do navio antes de
descer para o cafe' da manha. Entramos nas Ilhas Argentinas as 9h00 em
ponto e comecamos a operacao de desembarque logo em seguida. O navio
desta vez parou bem na frente da estacao ucraniana Vernadsky, dentro do
estreito canal que separa as duas ilhas principais. Logo estavam todos
na frente da estacao e quando me preparava para entrar, Sebastian chamou
a todos convidando para um "passeio privado" do grupo Staff.
Aproveitamos que todos os passageiros estavam em boas maos ucranianas e
saimos todos (Sebastian, Sho, Alex, Doc e eu) em um Zodiac pelos canais
estreitos ate' Skua Creck, um pouco mais ao sul. Foi uma surpresa pois
encontrei o "Santa Maria Australis" fundeado e escondido no meio de duas
ilhotas. Que veleiro maravilhoso ! quero ter um destes.

Um pouco mais adiante deste ponto paramos prуximos a uma casinha pequena
com a bandeira inglesa e dois carpinteiros. Eles estao reconstruindo uma
antiga estacao inglesa que servira' de museu, assim como Port Lockeroy.
Achei barbaro. Provavelmente no prуximo ano poderemos passar por ali. Os
canais sao fantasticos para se parar com um veleiro, e as aguas do canal
profundo esta' cheio de focas e baleias.

Voltamos para pegar todos os passageiros e fazer um passeio de zodiac
pelos canais. Vimos varias focas caranguejeiras descansando por ali,
algumas skuas sobre as pedras, e uma infinidade de formas variadas de
icebergs. Como a area das Ilhas Argentinas e' muito rasa, a maioria dos
grandes icebergs que migram de sul para norte acabam parando por ali. e'
um estacionamento de icebergs. Ficamos por uns 40 minutos entre os
blocos de gelo, ate' voltarmos para o barco, primeiro Sho e eu em
zodiacs diferentes. Os outros seguiam bem atras. Dai aconteceu ! ate' o
momento foi o ponto mais cфmico da viagem.

Parei o zodiac como de costume na passarela do navio e desembarquei meus
11 passageiros. Mika, o oficial da ponte me avisou pelo radio para
deixar o zodiac amarrado na popa ao inves de subi-lo com o guincho. Essa
manobra e' comum para os russos, pois o barco fica amarrado na popa e o
piloto tem que "saltar" para dentro do navio, que tem uma diferenca de
altura de uns 1,80 m entre o Zodiac e a borda. Facil ! para um russo de
1,90 como a maioria por aqui. Na primeira tentativa, eu simplesmente
fiquei pendurado pela borda, e o zodiac se afastou da borda no mesmo
instante. Ou seja, fiquei pendurado como um perfeito imbecil enquanto
que Yuri, o oficial de conves me olhava meio atфnito sem saber o que
fazer. Apуs uma serie de improperios em varias linguas, Yuri entendeu o
meu "Take the F. rope again !" e mais alguns palavroes em espanhol e
portugues, e puxou a cordo do zodiac novamente. Com isso ganhei pe' e
pelo menos me livrei do banho de agua gelada. Seria no minimo ridiculo
ser o unico a cair na agua em toda a viagem ! Pensei meio rapido e
aproveitei uma pequena onda para dar um impulso na borracha do zodiac e
pular os 10 centimetros que me faltavam em altura. Pode parecer pouco
mas fez uma diferenca enorme ! consegui me apoiar com mais firmeza na
borda e depois de mais uns improperios, rolei para dentro do barco. Que
situacao mais ridicula ! Yuri, primeiro assustado com a possibilidade de
me ver dentro d'agua, passou ao riso aberto, enquanto que eu ficava
entro o "F." e o "S." (em ingles em alto e bom tom!).

Passado o susto, almoco rapido e mais uns 30 minutos de navegacao,
fundeamos na frente de Peterman Island. O sol abriu firme e forte,
requerendo uma camada extra de protetor solar. Descemos as 3 da tarde na
ilha e caminhamos dispersamente pela pinguineira de adelies, papuas e
alguns cormoroes de olho azul. Os filhotes estavam enormes. De repente,
no meio de todas as pedras, alguma coisa me chamou a atencao e la'
estava um pedaco enorme de um tronco fossilizado. A arvore devia ser bem
grande e obviamente, nao havia uma floresta ali. Esse pedaco deve ter
sido trazido pela geleira da ilha que retrocedeu muito nos ultimos
milhares de anos. Ainda e' possivel ver os diversos terracos dos antigos
periodos de deglaciacao. Ainda encontrei um pouco mais acima, cerca de
uns 25 metros acima do nivel do mar, uma paleopraia - um conjunto de
pedras rolicas, arredondadas pelo mar, provavelmente naquele nivel a
milhares de anos atras. Essas sao as maiores provas das alteracoes
climaticas de longo curso durante a histуria geolуgica da Terra. Ainda
nos deliciamos um pouco pela ilha, entre as diversas pinguineiras, e
voltamos ao navio ja' com o vento querendo chegar na casa dos 20 nуs,
mas ainda com muito sol.

Mais 30 minutos de navegacao e entramos em Girard cove, para nos
abrigarmos sobre um paredao de rocha e neve, especialmente preparados
para o churrasco antartico tradicional. Sol e nada de vento, muita gente
jovem a bordo nessa viagem, e o churrasco transcorreu como a comedia
tragi-cфmica de sempre: bebados de fim de festa e musica russa da pior
qualidade. Eu sai depois da segunda garrafa de vinho quebrada rolando
pelo conves, ja' cansado e com muito sono.

Amanha espero que o tempo continue firme. Iremos a Baia Paraiso,
Skontorp e Neko.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

20/12 - 24/12 Pela Peninsula Antarctica

Sao 8h30 de 24/12, vespera de Natal. Saudades imensas do Brasil. Estamos
quase no ponto de fundeio de Paradise Bay, com um sol maravilhoso e
muitos planos para hoje. Teremos saida de Zodiac, subida na geleira
Skontorp, foto do grupo em Almirante Brown e Neko Harbour. Dia cheio !
Estou enviando este post e mais dois dias para Frei. Ate' la' quem sabe
consigo uma conexao em Frei.
Beijos a todos e Feliz Natal !

--- 20/12 Deception (vento D+) - Ilha Livingston - False Bay

Dormi mais ou menos bem, com um balanco leve que aos poucos se tornou um
pouco mais forte. Atravessando o Estreito de Bransfield, o mar comecou a
mostrar suas garras e as ondas comecaram a bater firme no casco no
navio. Ventos de 40 nos e ondas curtas e rapidas castigavam bastante a
proa do barco. Por alguns momentos, o spray delas lavava os vidros da
ponte de comando. Com esse tempo ruim, poucos se aventuraram fora da
cama as 6 da manha para ver as proximidades de Deception.

Fizemos uma curva acentuada para pegar a entrada vindos de leste, e
mesmo com o vento soprando forte conseguimos manter a distancia
regulamentar da parede (uns 20 metros) bem na entrada de Deception - os
foles de Netuno.

O rastreador mostrava uma veleiro dentro da baia, que acabamos por ver
apenas quando estavamos bem dentro da cratera. Na verdade - dois
veleiros: Santa Maria Australis e o Anna Margaretha - fundeados dentro
da lagoa vulcanica em Telephon Bay. Logo depois de nossa entrada em
Deception, fomos seguidos pelo N G Explorer. Um outro barco de turismo
que estava pensando em descer ate' a praia. Passamos rapidamente na
frente da estacao argentina abandonada e da "full operational" estacao
espanhola de Deception. Ainda na saida encontramos uma enorme e gorda
foca leopardo cacando pinguins ao redor de um pequeno iceberg. Fotos e
mais fotos, como sempre, e seguimos adiante para a saida e a costa leste
da ilha.

Decidimos sair da boca de Netuno e navegar para Livingston. Os planos
eram explorar a parte sul de Walker Bay e depois seguir a Media Luna. No
entanto nao tivemos tregua do vento e do mar, que ficou bastante
complicado. Navegamos pela parte sul da ilha por um bom tempo, ate' que
no meio da tarde o sol deu a sua cara e o vento diminuiu bastante.
Saimos Sho, Alex, Andrei e eu para uma volta de Zodiac, para verificar a
acessibilidade de uma praia proxima em False Bay. Infelizmente, um swell
de 2 metros de altura e muito gelo na praia impediam qualquer tentativa
de desembarque. Por fim , Sho decidiu fazermos todos um passeio de
Zodiac - maravilhoso ! Focas leopardo nadando proximas de nos, gelos
flutuantes e um "break" na geleira ao fundo da baia, com ondas e tudo
mais.

Terminamos o dia com a foto do grupo na proa do navio, um jantar
maravilhoso de Filet argentino grelhado, e um pouco de diversao com
alguns passageiros "borrachos". Amanha sera' "Mad Fields" - a loucura da
base chilena para desembarque e reembarque de um novo grupo. Hasta la
vista !

--- 21/12 Frei Frei Frei

Prognosticos sao advinhacoes. Este e' um ramo de "Mentirologia
Antartica", assim como chamamos a meteorologia por estas bandas. A
previsao era de ventos moderados de norte e conseguimos um bom gale de
35 nos vindos de Nordeste ! Bad weather.

Ficamos enfurnados entre um barco da armada chilena e o paredao de
Fields. Plano de voo ainda em curso e a visibilidade caindo cada vez
mais, Sho decidiu que tentariamos nos aproximar da costa e conseguir um
desembarque na estacao de Bellingshausen. E foi o que fizemos - tour
completo em Bellingshausen e na igreja ortodoxa. A praia estava fedendo
a diesel, por causa de um vazamento na estacao de Bellingshause. Ainda
assim a praia estava habitavel.

Voltamos para o almoco e logo depois comecamos a desembarcar as malas e
o pessoal. As 12 hs se confirmou o voo saindo de Punta Arenas com
destino a Frei e com isso, trouxemos todos os passageiros secos e alguns
pouco molhados ate' a praia de Frei as 14 hs. Com um grupo subindo a
pista e outro descendo, em poucos minutos conseguimos organizar tudo. As
15:30 hs subimos novamente a bordo, ja' com o novo grupo.

Malas nas cabines (voltei para a minha 321) e tudo mais ou menos
organizado, todos foram comvocados para o Abandon Ship Drill, o qual
passamos com louvor.

O rumo foi ajustado para sul 230 com destinho ao final de Gerlache, na
ilha Danco, e Neptuno nos brindou com um espetaculo no fim da noite:
varias baleias fin e outra Humpback derao um show a parte, mergulhando
debaixo do navio e dancando a nossa volta. O fim de dia na verdade era
apenas uma claridade constante, ja' que hoje e' o solsticio de verao - o
dia mais longo do ano, e por aqui - um dia eterno. Os novos passageiros
ficaram absolutamente estarrecidos ! Um bom inicio de pernada, eu acho.

--- 22/12 Gerlache - Danco Island - Port Lockeroy (aborted)

Cedo pela manha ainda navegavamos pelo estreito de Bransfield, chegando
a Gerlache. Pouca visibilidade, vento e neve acompanharam o navio por um
longo tempo, ate' o canal Errera e a Ilha Danco. Ali o vento estava
curiosamente fraco. Desembarcamos para uma visita a pinguineira de Danco
por volta das 10 hs e nem o tempo frio e chuvoso tirou o animo dos
passageiros. Logo na saida, algumas Orcas apareceram no canal mas
ficaram observando o barco apenas de longe.

A praia de Danco e' muito estreita e a encosta da ilha e' uma colonia
bastante grande de pinguins gentoos, barulhentos e carismaticos. Subimos
em fila indiana ate' a metade da ilha para visitar a pinguineira. Eu
abri a fila, fechada por Sho e Doc. Nesse meio tempo, Sebastian, o chefe
deste grupo, subiu ate' o topo da ilha para abrir caminho na neve.
Decidi ficar com Alex na parte baixa, com alguns passageiros sem folego
suficiente para a subida ingrime. Por volta do meio dia retornamos para
o barco, para um almoco de vinho e penne a bolognesa. Infelizmente,
tivemos apenas um pequeno mas triste imprevisto no almoco - um vazamento
no tanque de agua doce de bombordo com o tanque de lastro, fez com agua
salgada entrasse no sistema. Resultado: meu cafe' pos-almoco saiu
salgado e intragavel. Problema rapidamente resolvido pelo pessoal de
bordo.

O percurso seguinte foi o retorno para Gerlache com uma guinada para o
sul para entrar no Canal de Neumeyer. Destino - Port Lockeroy. mas o
vento nao deu tregua e aumentou ao nivel de seguranca. Paramos em Port
Lockeroy as 14:30 hs mas com impossibilidade total de desembarque. O
plano B foi a minha palestra sobre Mudancas Climaticas, com a
participacao ativa de muitos passageiros. Fico feliz em ver como as
pessoas se interessam pelo tema de minha pesquisa.

Tentamos ainda um desembarque em Port Lockeroy, mesmo com vento acima
dos 35 nos. Para tanto, o teste foi levar Sho no zodiac, com o piloto
maluco russo e eu como "contrapeso" na frente. Nunca xinguei tanto e em
tantas linguas os poucos minutos de travessia entre o navio e a base.
Voltei absolutamente encharcado de agua salgada e com os bracos duros de
segurar a maldita corda do Zodiac. O vento estava implacavel e o banho
que tomei de agua foi memoravel. Nem precisei dar minha opiniao sobre o
assunto. Quando Sebastian viu o meu estado deploravel, ja' abandonou
imediatamente a ideia de esembarque. Ficamos no navio para uma janta
tranquila, seguida por uma hora no bar onde fiz algumas caipirinhas com
vodka e gelo de 1.000 anos coletado na praia pela manha. Uma delicia.

E para fechar a noite com uma surpresa maior ainda, recebi um email de
minha mae e de Mariana, dizendo que estava com saudades. Ai que bom
ouvir isso ! Estou morrendo de saudades tambem, e agora, contando os
dias para o retorno. Agora sao mais 15 dias de viagem !

Nada para fazer o resto na noite, vento ainda na casa dos 30 nos para
cima, e minha cabine quentinha, decidi dormir cedo hoje. Estou com a
cabeca pesada (sera' que foi a caipirinha ?).

--- 23/12 Vernadsky Station - Peterman Island & Churrasco (BBQ)

Acordei meio atordoado, meio sonambulo, em meio ao movimento leve do
barco entre gelo. Fui ate' a janela e percebi que estavamos pelo
Estreito de Lemaire. O chamado da ponte sobre "baleias a frente!" logo
me acordou. Subi a ponte e estava tudo calmo, apenas uma baleia
descansando no canal, o que me fez sentir mais vontade de um bom cafe'
da manha.

Estavamos nos aproximando da Ilha Booth em direcao as Ilhas Argentinas e
a base ucraniana de Vernadsky. Aqui, pela primeira vez la' pelos idos de
1970, o buraco na camada de ozonio foi descoberto, juntamente com os
ingleses da base Harley. Desembarcamos as 9h30 com todos os passageiros
para descobrir essa maravilha de base antartica. Tudo limpo e
organizado, areas abertas e um conforto descomunal. Comprei um patch
para a mochila e tirei varias fotos.

Voltamos a bordo para o almoco e seguimos um pouco adiante, ate'
Peterman Island. Ficamos por ali parados ate' as 15 hs quando
desembarcamos para visitar a colonia de pinguins Papua e Adelies. Os
filhotes de Cormoroes de olho azul estavam bem grandes e varios ninhos
de Adelies estavam com filhotes. Demos uma boa caminhada pela ilha ate'
o ponto mais alto. Achei super interessante tambem as rochas, granitos
com varias inclusoes basalticas, provavelmente mais antigas. Diques de
basalto, fissuras cobertas por oxido ferroso, e varios matacoes
embutidos na matriz granitica. Nao imaginava que isso existia aqui. Vou
tentar procurar um pouco mais sobre a geologia da Peninsula.

Na hora de voltar a bordo, deparamos com uma foca leopardo destrocando
um pinguim. Tambem achei curioso pois sempre pensei que as focas
engoliam quase que por inteiro o pinguim, mas ela tirava aos pedacinhos
pequenos, ajudando com as patas dianteiras. Impressionante ! Alem do
espetaculo da foca, uma baleia estava pescando bem perto do barco.

Conforme programado, iniciamos o churrasco antartico as 19 hs com
direito a vinho quente. Desta vez o tempo coperou e apesar do frio de 4
graus na popa, a ausкncia de vento tornou o local mais confortavel.
Tinhamos carne argentina, salsichas, frango, costela e mais algumas
coisas nao identificaveis da cozinha russa, alem de saladas e bebida a
vontade. Obviamente, nao podia terminar sem o "baile" tocado pelo
"Micha" (segundo oficial Mikael) e Gemma, sempre tocando fogo no povo.

Nao fiquei muito tempo na esbornia e ainda dei uma passada pela ponte,
onde o capitao separava velhas cartas nauticas para jogar fora. Vamos
ficar por aqui em Girard Bay, logo na entrada do canal de Lemaire, para
passar a noite confortavelmente abrigados entre os paredoes da baia.
Amanha seguimos para baia Paraiso, Skontorp e Neko Harbour.

Buenas Noches.

PS: Hoje entrei exatamente na metade da viagem, por isso, como manda a
tradicao, tirei a barba. Fiquei estranho ! espero nao sentir muito frio
depois disso.

---- Dia 24/12, vespera de Natal, agora a saudades bateu bastante forte.
Quando isso acontece prefiro ficar com meus pensamentos. A popa e' o
melhor lugar de todos para isso pois tem uma vista maravilhosa do mar e
pouco vento.

O dia amanheceu com bastante sol e poucas nuvens, e parece que estamos
flutuando no meio de bolos cobertos de glacк. Entramos em Paradise Bay
para fundear proximo a base Almirante Brown (Argentina - que esta'
fechada). Sera' um dia realmente cheio e a ceia de Natal sera' simples.
E' nessas horas que percebo a distancia do Brasil.

Saudades e Feliz Natal.

domingo, 20 de dezembro de 2009

Novos Caminhos - 16/12 à 19/12

Ja' estamos no dia 19 e como prometido, estou atualizando o blog.
Novamente, mil desculpas pela falta de acentos e letras trocadas, mas
ainda esta' dificil entender como funciona o teclado em russo. Amanha
(20/12) estarei indo a Deception e depois Livingston. No domingo,
estaremos em Frei...quem sabe consigo uma conexao melhor. Dai poderei
atualizar com algumas fotos.
Ate' lб....saudades de todos.
Andre

-----
16/12 - Voo atrasado - Baia do Almirantado

Chegamos em Frei relativamente cedo, mas as condicoes de tempo estavam
bastante ruins. Vento cruzado na pista, impossivel de haver qualquer
operacao de voo. Aguardamos pacientemente pela manha e as novidades, mas
as coisas apenas pioraram. Logo no inicio da manha eu tentei falar com o
Brasil, e depois de uma serie de problemas, consegui contato com minha
mae. Conversa rбpida, mais tentativas, e la' se foi uma manha enterrado
no fundo da Baia Fields, com nossos vizinhos espanhуis nos Las Palmas, e
o Ary Rongel aparecendo de fininho para logo seguir viagem a baia do
Almirantado. Todos os voos cancelados.

Depois do almoco, nada para fazer, o melhor foi mesmo sair dali.
Seguimos para a baia do Almirantado para um pouco de exploracao. Para
mim foi уtimo rever a base ! O Ary Rongel estava parado no lugar de
sempre, com muito vento e pouca visibilidade. Chegamos perto e consegui
conversar com o povo de lб. Mas o nosso navio e' um explorador por
natureza. Nada de ficar parado no mesmo lugar. Por isso, decidimos
seguir adiante e visitar as imediacoes de Lessich, do outro lado da baia
do Almirantado. Entramos "literalmente" com o navio no gelo ! Na carta
nбutica, nossa posicao sinalizava a borda de umn glacier, mas ainda
tinhamos uma boa margem de uns 300 metros para ir adiante. Foi o que o
capitao fez....exploramos um local onde antes so' havia gelo e agora nao
havia mais nada senao бgua do mar. Muito interessante isso !

Decidimos seguir adiante e explorar a enseada Ezcurra, a mesma em que
estive em 2007. Ao fundo da baia uma surpresa - o mar congelado ! Entao,
como estamos em um quebra-gelo, por que nao quebrб-lo ? essa foi a
ideia, mas infelizmente impossivel de realizar. O gelo era tao duro que
na primeira tentativa o navio entrou apenas uns poucos metros gelo
adentro. Demos a volta na Ilha Dufayel para ver se tinha passagem pelo
outro lado, e que nada ! mais gelo duro. Desta vez entramos quase meio
navio no gelo e ficamos por ali um tempo. Umas 30 focas caranguejeiras
apareceram do nada e comecaram a nadar na volta do barco ! um espetбculo
!

Tivemos nossa janta por ali mesmo, com o barco parado, e logo depois das
8 da noite comecamos a retornar para Fields, para dormirmos junto aos
vizinhos espanhуis e agora um navio chileno tambem. Eu fui dormir
lembrando de Ferraz e dos bons tempos por ali.

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17/12 A loucura de FREI

Acordamos novamente entre os vizinhos na baia Fields, em frente a base
Chilena. Cinco navios nos faziam companhia: Ary Rongel (Brasil), Oscar
Viel (Chile), Las Palmas (Espanha), Ushuaia (Turismo), Longnesses
(Container). Aguardamos pacientemente o desenrolar das atividades do
dia, embora o clima a bordo nao estivesse muito calmo. Todos vestidos
apуs o cafe, malas pelo meio do corredor e aquela ansiedade pre-voo que
sempre observamos na antбrtica.

Na base chilena Frei, o degelo e suas consequкncias eram
impressionantes: uma cachoeira tinha se formado na praia e parte da
estrada de acesso a pista de pouso estava um lamacal.

O movimento comecou logo cedo com os helicуpteros do Ary Rongel voando
para la' e para ca' sem parar. Depois os do Oscar Viel. Por ъltimo
decidimos enfrentar o trбfego e descer com a turma para a base russa de
Bellingshausen, vizinha a Frei, e visitar a igreja Ortodoxa que existe
ali. Ja' em terra vimos o Hercules brasileiro pousar, logo depois da
saida do voo chileno. Voltamos imediatamente para bordo, com a noticia
de que o voo com o segundo grupo de passageiros ja' havia decolado de
Port Willians, no Chile. Todas as bagagens foram transferidas para a
praia e veio a surpresa: nao havia como transportar as bagagens da praia
para o aeroporto - um trajeto de 1,5 km e uns 20 minutos no meio da lama
e neve - pois a moto usada para tanto havia quebrado no meio do caminho.
Descemos com os passageiros e ficamos aguardando instrucoes por ali
perto da praia.

Cerca de uma hora depois, chegou o voo e houve o desembarque do novo
grupo, e consequentemente, o grupo que iria nos deixar tinha que comecar
a subir o caminho para a pista. Assim que o novo grupo chegou a praia,
distribuimos os coletes salva-vidas e embarcamos todos para o navio,
embora ainda havia dois problemas: as malas dos passageiros que nos
deixavam estava na praia aguardando subir para a pista, e as bagagens
dos que chegavam estava justamente na pista (!) aguardando que fossem
retiradas. Uma confusao dos diabos !

Mesmo assim, com todos a bordo, aproveitamos para visitar em dois grupos
a Ilha Ardley e a pinguineira que existe ali. O filhote da semana
passada ja' tinha crescido bastante e tenho certeza de que no prуximo
grupo no domingo ele ja' vai estar andando ao lado dos pais.
Impressionante tambem o degelo por ali - firme e forte, com vбrias
pequenas lagoas de degelo formadas na praia. Vimos ainda vбrios ninhos
abandonados, provavelmente resultado do vento forte dos ъltimos dias e
da fome das skuas.

Um pouco antes das 5 da tarde fomos acionados por Diana (eu e Doc) para
irmos a praia ajudar no que fosse possivel com as bagagens. Felizmente,
alguem conseguiu uma ajuda dos uruguaios que transportaram em um
caminhao todas as bagagens. Eu ja' estava achando que iamos carregar as
malas ladeira abaixo, mas felizmente encontraram uma solucao a tempo.

Seguimos a toda mбquina em direcao sul, para a peninsula. Eu, cansado
como sempre depois de um dia cheio, tomei um banho quente e fui dormir.
Quem sabe em sonho eu viajo um pouquinho mais (risos).


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18/12 Foyns Bay - Neko - Videla e por fim Glacier Skontorp

Navegamos a noite toda com um pouco de balanco pelo estreitro de
Bransfield e por Gerlache, sem ver um palmo na frente do nariz. Muita
neblina e por fim uma nevasca impediu qualquer observacao da costa.
Fizemos o treinamento de abandano de barco (obrigatуrio) logo apуs o
cafe' da manha e seguinmos diretos para Foyns, uma formacao rochosa rasa
entre as ilhas Nanses e Enterprise. Conta a lenda que vбrios foqueiros
usavam essas terras baixas para caca e o ъltimo deles, la' pelos idos de
1914 naufragou por ali. Ainda e' possivel ver vбrios destrocos
espalhados pelas pedras. Mas o tempo continuou muito ruim e o passeio de
Zodiac tao esperado teve que ser cancelado. Muito vento e ondas
impediram qualquer tentativa de usar os barcos.

Plano B acionado, dei uma palestra sobre trocas climбticas e impactos na
Antбrtica no fim da manha, pouco antes do almoco. Mais um tempo de
navegacao, chegamos a Neko debaixo de um nevoeiro forte e muita neve
caindo. Aparentemente o vento forte de norte destrocou parte do glacier
e jogou vбrios pedacos grandes de gelo a praia, que se cobriram com uma
grossa camada de neve fresca. A baia Andvord e' um lugar muito especial,
pois seus glaciers sao bastante altos. Uma pena que a visibilidade nao
ajudou nada. Fizemos um desembarque longo com direito a subida ingrime
da encosta da montanha cheia de neve. Ainda observamos algumas quedas de
gelo no glacier e vбrias focas na praia, alem dos pinguins habituais no
meio dos destrocos da base argentina em Neko.

Saimos dali uma hora e meia depois e de surpresa, Shoshona decidiu parar
para um desembarque rбpido na base chilena Videla, entre a baia Andvord
e Paraiso. Fiquei surpreso com o que vi: o iceberg que vimos ali preso
nas pedras uma semana antes tinha se fragmentado por inteiro. Em visita
a base, o comandante nos disse que dias atrбs, parte da geleira da ilha
Lemaire desabou e a onda que se formou destruiu o atracadouro dos
zodiacs. Tivemos que descer nas pedras para desembarcar os passageiros.

Na base visitamos o museu e a torre de observacao, alem do
engracadissimo pinguim albino (!) Isso mesmo, na pinguineira de papъas
existe um pinguim albino. Ele e' totalmente branco !

Saimos da Base Chilena Videla por volta das 5 da tarde com uma forte
corrente de mare. Impressionante a forca da corrente e o capitao nos
disse que ali a corrente chegava a 14 nуs (! quase 30 km/h). Todos a
bordo e passarela recolhida, seguimos adiante pelo estreito de Gerlache.

Entramos por fim na Baia Skontorp, ao lado da base argentina Almirante
Brown, fechada e em reconstrucao porque o doutor da base um tempo atrбs
ficou maluco e decidiu tocar fogo nos predios. Histуria complexa que
mais me parece lenda do que outra coisa. Mas enfim, entramos ali para
nos abrigar do vento n oestreito de Gerlache e "tentar" fazer um
churrasco. Realmente a baia estava com o mar ultra calmo e sem vento,
mas a chuva nao deu tregua e com a popa totalmente molhada ficou
absolutamente impossivel ficar ali fora. O churrasco foi feito na
cozinha mesmo e acabamos comendo no refeitуrio do barco. No fim da
janta, Diana decidiu cortar o cabelo de Alex. Vamos ver de que forma
isso vai ficar.

Decidi escrever na ponte, sentado na cadeira em frente as janelas com o
glacier Skontorp ao fundo da baia. Recebemos ainda a visita de uma
"Pomba Antбrtica" que veio xeretar pela janela da ponte, e agora vou
dormir para ver o que o dia de amanha guarda de surpresas.

E assim termina mais um dia antбrtico, com um pouco de chuva e ceu
cinza, mas ainda assim, o "paraiso" da Baia Paraiso.


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19/12 Peterman Island (aborted) - Unsurveyed Ride - Lockeroy

Acordamos cedo entre as paredes altas do Canal de Lemaire, navegando em
direcao a Peterman Island. O tempo estava muito ruim com muito vento e
neve grossa caindo. As ondas na frente de Peterman estavam altas demais
para se operar com os Zodiacs, entao decidimos procurar algum local mais
abrigado ao norte. No caminho, subimos ao largo de Havyaard Island e
encontramos uma pequena baia nao cartografada entre a ilha e Booth
Island. Uma baleia corcunda com filhote apareceu de repente no meio do
canal e fizemos a festa. Ficamos mais de uma hora fotografando as duas
entre o pequeno canal de acesso a Lemaire e a Ilha Booth.

As condicoes de tempo melhoraram muito em poucos minutos, e Shoshona
decidiu de fazermos um cruzeiro nos Zodiacs. A baia em que estбvamos nao
era cartografada e com muito cuidado, o capitao entrou um pouco mais
para dentro, entre vбrios icebergs e um glacier. Descemos 4 zodiacs e
comecamos um tours entre os grandes blocos de gelo. Ainda ficamos um
tempinho parados prуximos a parede de gelo onde duas baleias, tambem
corcundas, estavam descansando. Seguimos de zodiac por mais de uma hora
entre vбrios icebergs estacionados dentro da baia. Maravilhoso ! Nao ha'
como descrever em palavras um lugar tao bonito.

Voltamos ao navio com um pouco de vento e muita fome, problema
facilmente resolvido com uma boa taca de vinho Concha Y Toro tinto e
pizza a vontade. Mas o sossego nao demorou muito - Canal Peltier e Port
Lockeroy a frente.

Paramos em Port Lockeroy logo depois do almoco. Aproveitei a ida a praia
para deixar um recado e cholocates para Amyr Klink, no dashboard de
Lockeroy. Nao havia veleiros na baia desta vez, mas uma boa surpresa nos
aguardava. Exatamente na hora que estбvamos na ilha, um pinguim bem na
nossa frente comecou a ficar inquieto e levantou do ninho. Os dois
filhotes (dois ovos) estavam comecando a quebrar a casa do ovo.
Fantбstico ! Infelizmente isso demora um pouco para acontecer e tinhamos
que deixar Lockeroy. O sol ainda nos brindou um pouco e aproveitamos o
reembarque de Lockeroy para tomar chocolate quente na proa. Tempo
maravilhoso, consegui ate' ficar um pouco de camiseta sob o sol.

Mas o vento implacбvel entrou de novo, e passamos o resto da tarde
velejando para norte, seguindo o Estreito de Gerlache. Entramos no
inicio da noite em Orne Cove para explorar um pouco, mas com rajadas de
48 nуs ! Incrivel ! e retornamos o curso para Ilha Deception.

Agora o sono bateu com forca - hora de tomar banho, tomar um chocolate
quente, e dormir uma boa noite de sono. Saudades do Brasil.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

ANDRE BELEM via skyfile (13-15/12)

Bem...ca estou eu via satelite com alguma coisa para colocar no blog.
Alem da completa falta de tempo e da grana que custa enviar um email,
deixei para completar parte da viagem para mandar alguma coisa para o
Blog. Lembrando - ainda continuo sem poder usar acentos (senao o sistema
vai trocar por letras russas) e so' estarei atualizando o blog a cada 3
dias.

Boa leitura...
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13/12/2009 - Canal de Neumeyer, Port Lockeroy e Canal de Lemaire

Acordei cedo depois de uma noite sonhando muito. Nao sei muito bem com o
que eu sonhei mas acordei com a sensacao que tinha viajado ate' o Brasil
e voltado. Eram 6:00 hs da manha quando levantei e fui ate' a ponte. Um
elefante marinho estava parado n omeio do canal e o navio entrando
lentamente pelo canal de Neumeyer com bastante vento mas um dia de ceu
claro e semi-aberto. Infelizmente nao dava para ver o topo das grandes
montanhas da Ilha Answer, por causa de uma camada espessa de neve e ar
condensado.

Ja' na entrada do canal me surpreenderam duas coisas: a ausencia de
baleias (apesar da grande quantidade de passaros, como storm petrels,
sternas e algumas skuas perdidas), e a quantidade de fraturas na maioria
dos glaciers. A minha ultima vez no canal de Neumeyer tinha sido a mais
de 13 anos atras e me lembro claramente das geleiras brancas chegando
ate' as praias ou penhascos do canal.

Para nao dizer que nao vimos baleia alguma, duas baleias apareceram
muito rapidamente na nossa frente. Mal deu para avisar ou mesmo
fotografar. Seguimos por um tempo pelo velho e conhecido canal ate'
chegarmos a Port Lockeroy - uma antiga base inglesa que hoje e' um museu
e e' tocada por 4 mulheres que vao ficar ate' marco ali - somente elas.
A base fica em uma rocha nao maior que um campo de futebol, com uma
colonia massiva de pinguins, baias rasas e muito gelo na volta. Logo na
entrada vimos dois veleiros - Spirit of Sidney e outro que nao consegui
ver o nome. Fundeamos bem no fundo da baia, a poucos metros da geleira e
descemos em 2 botes ate' a praia.

Uma pequena volta e uma visita ao museu, onde a maioria dos passageiros
comprou alguma coisa. Eu decidi esperar para a proxima visita no proximo
grupo para poder fazer isso. Estava um pouco sem paciencia para
enfrentar uma fila no caixa do museu. Preferi companhar Eva, a
pesquisadora do Instituto Antarctico Chileno (INACH) que precisava tirar
amostras do solo na praia. Voltamos em seguida para a base pela
pinguineira e juntei os ultimos remanescentes de passageiros para a
praia onde reembarcamos para o navio. Uma baleia corcunda ficou
brincando na nossa frente por alguns minutos (e obviamente todos sairam
para tirar uma foto !) e seguimos direto pelo canal Peltier, um micro
canal onde so passa o navio e nada mais. Descemos para o almoco enquanto
nos aproximamos do canal de Lemaire.

Fiquei bastante tempo na ponte. Ainda na entrada do Canal de Lemaire,
com Splitwind Mount do meu lado, uma montanha com mais de 2.000 m de
altura, procuramos por baleias, e confesso que estou assustado com o que
estou vendo ! nao ha' nada ! Nenhuma unica baleia. Da minha ultima vez
aqui muitos anos atras, encontramos varias baleias que ficavam brincando
na frente do barco.

Paramos em Peterman Island no fim do dia para um longo passeio pela
Ilha. Interessante ! nao ha' solo e sim apenas rochas e gelo, e rochas
de um tipo (granito). Em alguns locais conseguimos ver intrusoes de
basalto mas a ilha e' praticamente um pedaco bem antigo de terra. Varios
pinguins de adelie, papuas e uma pequena colonia de cormorantes de olho
azul. Ficamos praticamente duas horas na ilha, tempo suficiente para
tirar varias fotos da paisagem.

Depois de uma volta tranquila, troquei rapidamente de roupa e fui ate' a
sala de conferencia, para dar uma palestra sobre "Cambio Climatico". Foi
no mнnimo divertido com o meu "portunhol" tentando me fazer entender e
os princнpios basicos de oceanografia e circulacao. Mas foi um sucesso !
Saimos depois de uma hora e meia, ainda com varias perguntas e
participacao de todos os passageiros de lingua espanhola, em uma animada
discussao.

As 19hs comecou na popa o famoso Antarctic Barbecue - Churrasco
Antartico. Desfrutei de um pouco de carne na brasa, coisa que estava com
vontado. E obviamente tudo isso regado a muito vinho e com musica de
discoteca russa. Apesar do frio e da neve, todos acabaram entrando na
danca e realmente "dancando" no deck. Fui dormir as 22 hs mas sei que
ficaram dancando ate' tarde, pois hoje no cafe' da manha, nem um terco
dos passageiros apareceu.

Foi uma noite tranquila....sonhei bastante.

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14/12/2009 - Paradise Bay, Base Brow, Base Videla e Neko Harbour
(Peninsula)

Acordei um pouco mais tarde hoje (as 07:30 hs) pois estou com uma dor
muscular um pouco chata. Saudades da famнlia tambem. Tenho pensado muito
em todos, principalmente na Mariana. Mas por hora, enquanto nao
chegarmos a ilha Rei George de novo, nao poderei ligar para ela. Tenho
que me conformar um pouco.

Cafe' tranquilo e leve (estou comecando a regular a comida), nos
preparamos para o primeiro desembarque em Paradise Bay. Fizemos um tour
de zodiac pelas encostas da baia Paradise e da base Cmd. Brow
(Argentina) que estava fechada, sem ninguem. Por ali, as encostas
нngrimes abriga varios ninhos de cormoroes de olho azul e alguns
petreis. Eu fiquei com o ultimo bote, pilotando entre os gelos
flutuantes enquanto o pessoal tirava fotos. Chegamos bem perto do
Glacier ao fundo da estacao e depois voltamos para a escadaria нngime de
acesso para desembarcar a todos. Como aquele ponto e' na peninsula
antarctica propriamente dita, ou seja, no continente, Shoshana levou uma
garrafa de champanhe para brindar a todos com a passagem pelo cнrculo
polar antartico. Depois do brinde, ainda subimos pelo glacier atras da
base para uma descida de "skibunda". Foi no mнnimo divertido.

Voltamos ao barco para o almoco e rapidamente o navio se movimentou ate'
a estacao chilena Videla, onde Shoshana e Alex desembarcaram algumas
caixas e correspondencias. Mantivemos curso para Neko Cove, onde mais
uma vez desembarcamos para umas fotos na pinguineira, desta vez
acompanhados por focas de Weddell que dormiam preguicosamente na praia
(pelo menos umas 5 focas). Subimos ainda mais uns 200 metros acima da
praia, em um glacier bem liso, para uma vista previlegiado da geleira de
Neko. Esse lugar tinha um refugio argentino que foi abandonado
totalmente destruido, e com muito lixo amontoado pela praia. Uma
tristeza ver aqueles pinguins todos fazendo seus ninhos n omeio do lixo.
Um absurdo total !

O tempo virou rapidamente com um vento frio descendo a calota atras de
nos e decidimos sair rapidamente dali antes que a coisa piorasse.
Voltamos para o barco e para um pequeno e informal coquetel no bar,
relemebrando as experiencias do dia. No meio do canal de Lemaire
passamos pelo navio Minerva, de outra empresa de turismo, e nos
despedimos de Lemaire para entramos no estreito de Gerlache no fim da
tarde, rumo a Deception.

Eu fui dormir....cansado mas feliz. Mais um dia se passou e foi
maravilhoso rever lugares que eu tinha conhecido a tanto tempo.

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15/12/2009 - Ilha Deception e Ilha Media Luna, Livingston, Shetlands do
Sul

Atravessamos o estreito de Gerlache e o Bransfield em uma noite
relativamente calma. O barco balancou muito pouco e nao precisei nem
tirar o computador da mesa. Ainda consegui ver um filme no computador
antes de dormir, mas nao tive uma noite muito tranquila. Acho que a
posicao do barco, inclinado pelo mar na direcao do meu travesseiro, me
incomodou um pouco. Assim eu fico um pouco atravessado e nao consigo
dormir bem.

Acordei as 06:00 hs da manha e rapidamente estava na ponte para ver a
chegada a Decpetion - um vulcao ainda ativo no meio do mar gelado. A
unica coisa que vimos foram pedacos de gelo flutuante e um nevoeiro de
cortar com faca. Nada a frente ! mas no radar apareciam os "Foles de
Neptuno" como e' chamada a entrada da cratera. Passamos a mais ou menos
50 metros das paredes ingrimes na entrada apertada e rasa da baia, e
viemos fundear em Whales bay, logo do lado direito da entrada. O local
era uma estacao baleeira que la' pelo inнcio do seculo era o local mais
abrigado e seguro para a frota pesqueira. No entanto, duas erupcoes
fortes em ciclos de 40 anos acabaram com a estacao e tambem com a base
que existia dentro da ilha. A ultima erupcao foi em 1969 - portanto - 40
anos atras (!). Bem....espero que o calor das termas da ilha seja apenas
o suficiente para esquentar a agua do banho e nao para nos cozinhar !

Desembarcamos as 09:30 hs com todos os passageiros para admirar a
paisagem um tanto quanto desolada. Sao pilhas e pilhas de ferro com os
tanques de cozimento enferrujados, onde se retirava a graxa e o oleo das
baleias. Conta a historia que Nathaniel Palmer, um foqueiro americano,
encontrou 3.000 carcacas de baleias mortas nas praias de Deception. As
casas da antiga base baleeira norueguesa sao um monumento a agressao as
baleias. Mas a ilha foi implacavel com as construcoes. Praticamente tudo
que foi construido pelo homem esta' sendo aos poucos consumido pela
neve, gelo e cinzas da ilha.

Caminhamos pela praia por um tempo, ate' bem perto das "Janelas de
Netuno", uma abertura na parede do vulcao para a parte externa da ilha.
Ali na praia, 3 focas caranguejeiras descancavam preguisosamente na
praia, onde vapores quentes com cheiro de ovo podre emanavam bem da
beira d'agua. Realmente o local tem agua morna, mas ainda assim e' fria.
Mas...para quem visita a Antartica, tomar banho ali e' um feito, e
alguns bravos e corajosos passageiros decidiram experimentar.

Voltamos para o barco as 12:00 hs e agora rumamos para Livingston, para
aportar na Ilha Media Luna (Half Moon). Ali fica uma base argentina (por
hora "abandonada") e uma colonia de pinguins Chinstrap (de barbicha).
Com o tempo absolutamente fechado, chovendo e vento forte, lancamos
ancora em Media Luna as 3:00 hs da tarde e descemos a praia, desta vez
carregando as pesadas caixas de salvatagem. O vento estava um pouco
acima do que desejariamos e por isso Shoshana achou melhor fazermos uma
descida curta e deixarmos a caixa de vнveres na praia.

Nao durou mais do que 30 minutos porque o vento acabou com a festa.
Voltamos rapidamente para o barco onde um banho quente me aguardava.
Confortavelmente vestido com roupas secas e quentes, vou aproveitar a
noite para descansar um pouco.

Amanha estaremos em Frei e novamente ao alcance da civilizacao. Este
grupo desembarca e receberemos outros. Ai sim vou ver se consigo alguns
minutos para falar com o Brasil e tentar ouvir a voz da Mariana.
Saudades !

...

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Time to go....

Dia cheíssimo ! De manhã passei mais de uma hora na Governadoria Provincial de Magallañes fazendo o visto de trabalho com o Nelson da Antártica XXI e logo depois voltei para o Hotel para arrumar minhas coisas. Ao meio dia troquei de hotel e fui para o Hotel Nogueira. Impressionante a beleza desse hotel. Conta a história, que Shackelton, após ser resgatado nas South Orkneys, veio até a casa do Barão Nogueira em Punta Arenas, um fidalgo inglês, pedir ajuda para resgatar seus homens presos na Ilha Elefante. A casa toda em estilo inglês do século passado ainda contém várias gravuras de Schakelton, como esra que tirei foto (acima). Ainda assim, minha referência para a boa estadia em Punta Areas ainda é o Hotel Savoy (foto abaixo).



Passei parte da tarde na oficina da Antarctica XXI traduzindo as "charlas" (palestras) que eu ia dar à tarde para o Espanhol. Durezzaaaaa ! Igor, o gerente da Antarctica XXI ria copiosamente do meu espanhol, ou melhor, do "portunhol" (decisão de fim de ano - aprender francês e espanhol). Mas no fim das contas deu tudo certo. Ainda consegui dar um pulo na praça do Índio e tirei pelo menos uma foto da estátua com um "perro" dormindo aos seus pés (abaixo). É impressionante o número de cachorros de rua de Punta Arenas. Me lembrou a praia do Cassino em Rio Grande, onde morei por 10 anos e onde os cachorros "adotavam" seus donos.



Entre 15:30 e 16:30 hs, os passageiros dessa pernada chegaram para experimentar as botas especiais antárticas. Fiz o meu check up de roupas especiais e peguei minha bota (maravilhosa - uma Wellington especial para Antarctica, muito superior as que já usei por aqui !). E as 17:00 hs todas as 30 almas, entre chilenos, americanos, holendeses, franceses e um casal chinês, estavam no Salão Espanhol para escutar minha "charla" sobre Antartica, como se comportar em um Zodiac, e sobre como serão os procedimentos a bordo. Foi no mínimo divertido falar uma frase em inglês, e repetir em "portunhol" (muitos acharam engraçado !!). A foto abaixo mostra parte do Salão com os quador do Schakelton ao fundo e a Silvia Dellapina (da Antarctica XXI) na mesa do bar, organizando os últimos detalhes para a noite.



Logo em seguida da palestrinha de duas horas (!), subi correndo para o quarto para um banho rápido e trocar de camisa, e já desci para o coquetel com todos os integrantes do primeiro grupo. Um jantar maravilhoso regado a muito vinho chileno, costela de cordeiro, centoja (o carangueijo real patagônico) e como sobremesa, pudim de calafate - supinpa (ai meu regime !!). O Maginifico salão Espanhol combinava com a comida (rsrs).





O Hotel Nogueira é um lugar muito especial, pois mantém a mesma arquitetura da época colonial mas com uma estrutura de hotel 5 estrelas para ninguém colocar defeito. E amanhã começa a corrida logo cedo:


06:00 hs café da manhã


07:00 hs todos no ônibus devidamente "aparamentados" para o vôo antártico


08:00 hs todos no avião e viajamos rumo a base chilena Eduardo Frei.



Isso significa uma coisa muito importante: este é provavelmente meu último post "in loco". Os próximos dependem ainda de uma estrutura que não sei como vai funcionar. Portanto, já aviso de antemão que não posso prometer fotos nem posts longos pelos próximos 5 dias. Até lá, tudo pode acontecer. Mas vou tentar manter o blog funcionando, nem que eu tenha que enviar emails do navio - sem fotos - por enquanto.


Agora são meia noite ! preciso dormir. Uma boa noite de sono a todos.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Os telhados de Punta

Os telhados de Punta Arenas são como uma marca registrada da cidade...todos coloridos. Em uma pequena pausa de tarde subi até o mirante para testar um pouco a câmera nova (consegui ! comprei uma Canon D10 a prova d'água !).


Ainda na hora do almoço, fui para a zona franca para comprar a câmera e tirei umas fotos da baia de Punta Arenas com meu celular. Juntei as fotos e o resultado foi esse mosaico. Qualidade ruim, eu sei ! mas pelo menos dá para se ter uma idéia de como é a orla da maravilhosa "playa del Punta Arenas". La Playa de Punta Arenas.jpg


Bem...o dia foi super cansativo e estou mortinho da silva. Vou dormir pois meu dia começa amanhã cedo com muita coisa para fazer.


A pausa antes da tempestade

Acordei por volta das 7:00 hs depois de uma noite de merecido sono. Uma breve arrumação e alongamento matutino e fui para o meu Desayuño no Hotel, com direito a jornal e tudo. El Pinguino, jornal de Punta Arenas, estampava na capa uma matéria sobre o record de temperatura aqui. Ontem chegou a quase 16 graus !!! (centigrados!) em pleno verão austral. Conversei rapidamente com a recepcionista do hotel e ela me disse que realmente este inverno foi muito frio mas com pouca neve, e que o verão está muito quente para os padrões magellanicos. Interessante isso !


Meu post de hoje será mais um cronograma do que texto...a noite eu atualizo.


(1) Desayuño no Hotel Savoy


(2) Oficina del Antarctica XXI - Falar com a equipe e com a Silvia para as instruções do dia


(3) Visita a oficina da Entel PCS para resolver o lance do celular/comunicação e internet


(4) Ida a Zona Franca para "comprar uma câmera" (URGENTE!)


(5) Treinamento com as roupas e procedimentos para o pessoal que chega amanhã


Bem...é isso ! um bom dia (e que belo dia ensolarado ! está 14°C agora).

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Rumo 180° Parte I - sobrevoando Torres del Paine...

...agora são 20:20 hs horário local e estou a mais de 12 horas em trânsito ! Muito desse tempo é devido ao trajeto em forma de cotovelo, indo para oeste, para Santiago e depois descendo para o sul. Não tem o que fazer e se alguém quiser visitar a Patagônia não sobram muitas opções.


Estamos sobrevoando agora as terras ao sul de Puerto Montt, e aqui sim o gelo aparece firme e forte acima dos 2.000 dos Andes. Torres del Paine estavam divinos com o sol fazendo reflexos pelas montanhas. Os campos de gelo do sul parecem bastante firmes, mas a paisagem está seca e sem neve. Céu claro e azul, vista magnifica, e aproveitei a pausa logo depois do "lanchinho" a bordo para re-ler o manual de operações da Antarctica XXI. A foto abaixo e a abertura do manual, com as instruções de como, onde e o que fazer a bordo e em terra. Muito completo ! Confesso que quando eu leio imagino a Diana Galimberti da Antarctica XXI falando naquele inglês super doce com sotaque italiano. Por um lado, acho que será bastante divertido. Por outro, penso na tremenda responsabilidade que vou ter nas mãos: guiar gente que nunca pôs os pés na Antártica, sendo observado por quem vem aqui duas vezes por ano nos últimos 30 anos (!). Frio na barriga. Principalmente a parte do Zodiac. A última vez que eu dirigi um Mark V (aqueles enormes barcos Zodiac) foi um tempinho atrás e me lembro bem da potência do motor de 45 cavalos. Um toque no manete e vc faz ele voar. Fico imaginando se meus passageiros vão se segurar bem (risos).


novo-2.jpgBem...estou chegando no meu destino. Então esse post vai aparecer quando eu já estiver dormindo na caminha quente do Hotel Savoy em Punta Arenas. Confesso que preciso de um "baño" e já estou cansado de comida de avião.

Rumo 270 GRU-SCL (parte II - sobre os Andes)

Choooooove muito pela manhã do dia 08/12, e me surpreendi com um café da manhã soberbo no Ibis. Para quem não conhece, o café da manhã de um Ibis normalmente é ultra-hiper-mega fast food, do tipo "torradeira queimada em cima da mesa" e me deparei com frutas, geléias, bolos variados (!), nem parecia um Ibis (risos). A segunda surpresa do dia foi o aniversário de Guarulhos no dia 08/12 (eu não sabia !) - feriado na cidade, ou seja, 20% de desconto no hotel (Yupi !).


E a chuva não deu trégua a madrugada inteira.....que obviamente passei em semi-claro, um sono leve com medo de perder a hora, apesar dos 3 alarmes configurados no celular e telefone do hotel.


Cheguei pontualmente (como previsto) as 06:45 hs no aeroporto e depois de uma espera de uns 15 minutos na fila da TAM, peguei meu ticket, fiz o câmbio e esperei pacientemente a abertura do escritório da Receita Federal para declaração de bens. Até o momento tudo bem. Pena que o aeroporto não tem Wifi (grátis). Ou seja, vou precisar de um pouco de civilização chilena para atualizar minha localização.



No meio da fila do vôo, que atrasou por mais de duas horas, descobri que o problema foi a chuva que "ilhou" a tripulação da TAM. Uma maravilha ! Cada um que chegava o povo aplaudia (risos). Só aqui mesmo. Mas gostei do vôo no geral. Deu até para ver o filme G.I. Joe que eu ainda não tinha visto e um pedaço do "Up" da Disney. Coisa chique - cada poltrona tinha o seu próprio visor LCD mostrando não só o mapinha ao lado (desculpe ! Câmera ruim e pouco espaço !) como também uma câmera no nariz do avião mostrando o solo e a frente. Viva a tecnologia !


IMG0174A.jpgObviamente eu desliguei tudo na hora de passar pelos Andes (sorry de novo ! Câmera ruim). Magnificas montanhas essas nossas (sim ! nossas ! sul-americanos !). Mas senti que, pelo menos por aqui, a neve não está tão forte. Me lembro das últimas vezes que voei por aqui, mesmo próximo dessa época e nunca tinha visto os Andes tão sem neve. Vamos ver no caminho para Punta Arenas.


O avião pousou suavemente as 13 horas horário local em Santiago de Chile, encerrando essa etapa rumo oeste. Fiz o desembaraço, malas e imigração, e escapei com minha barra de chocolate escondida (sim ! os chilenos estão encrencando com qualquer gênero alimentício vindo do Brasil). Passei no "Ars" e comi uma deliciosa salada de salmão defumado com suco de framboesa. Amei ! Agora estou tomando um café expresso, aguardando o horário do próximo vôo, rumo 180° Punta Arenas. Até lá.


Ahh ! antes de terminar, achei pelo menos original a árvore de Natal do Aeroporto (risos) feita de malas. Sorte que a minha não estava ali ! E olha que tava cheio de mala bem cara da Sansonite.


Punta Arenas, ai vou eu !

Rumo 180 SCL-PUQ (pré-Parte I)

São 15:35 hs horário local, que é apenas 1 hora de defasagem do Brasil. Ainda aguardando o vôo, acabei descobrindo uma coisa interessante e excepcional. Chama-se BLOGLOC. Para os frequentadores desse blog, o mapa da direita não só mostra minha posição e me segue, como também mostra o que estou fazendo (se eu permitir, é claro rsrsrs).


Vale a pena conferir http://www.blogloc.com. Agora estou estudando o Fire Eagle que conecta o celular na rede e ainda por cima informa onde vc está (e seus amigos também). Máximo de tecnologia !

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Rumo 270 GRU - SCL

"Contrato de satisfação 15 minutos". Essa é a proposta que encontrei no Ibis essa noite, à caminho do sul. Um pequeno desvio para a esquerda, rumo 270 até Santiago do Chile, para onde devo seguir amanhã, pousando em Punta Arenas na noite do dia 8. Não é que funciona mesmo ? Descansei os pés e consegui ainda descer para o Lobby e falar com a Mariana, toda faceira com o presentinho do Papai Noel (meio adiantado, é verdade!).


Para "tentar" facilitar um pouco a comunicação com ela, Papai Noel trouxe um laptop de verdade, com câmera e microfone. Lá no Chile, a idéia é comprar um chip da Entel, a empresa de telefonia de lá, e poder usar a internet GPRS quando estivermos na base chilena na Antarctica, o que deve acontecer a cada 6 dias mais ou menos. Confesso que quando ela terminou de teclar no MSN com um "eu te amo papai", o coração deu uma boa apertada ! Haja coração !! Mas acima de tudo, essa viagem é importante pois é a preparatória para levá-la em breve para conhecer os pinguins em seu habitat.


A despedida no fim de semana foi intensa, com direito a piscina, patins na pracinha e lambidas antes de dormir. Mas estou seguindo tranquilo, pois sei que todos que ficam vão estar bem, apesar da saudades. Minha mãe ficou cuidando da Lili em casa e Mariana vai curtir os avós no Natal em Santos. A Lili percebeu o movimento estranho mas está bem alimentada tanto de comida quanto de carinho pela avó...então, está tudo tranquilo em casa. É bom partir sabendo disso.




A foto ao lado não ficou muito boa mas dá para perceber que os 18 kilos nas costas são menos do que eu levei da última vez. Estou me sentindo calmo e confortável. Peguei tranquilamente um táxi com um gaúcho de Gramado que falava pelos cotovelos, e me despedi de Santos com uma chuvinha fraca ficando para trás. A subida para a capital foi um tanto molhada, mas aproveitei a viagem para corrigir o resumo de um trabalho científico que fiquei devendo para a querida Gabi. Agora a noite ainda nos falamos e acertamos os detalhes e gráficos do trabalho. Finito ! Enquanto eu viajo para o sul, ela vai remeter o trabalho para o congresso. Essa será uma outra viagem - do volta ao Cassino em Maio do ano que vem.


E agora....meu sono chegou ! quase 23 horas, já falei com todos que precisava e vou "tentar" dormir - coisa um tanto complicada considerando que viajo amanhã cedo e que sou um leonino ansioso.


Então....rumo dois-sete-zero a caminho.

sábado, 5 de dezembro de 2009

De olho no gelo....

Esse não é um ano comum. A ida de 2007 foi fora do normal por causa da quantidade de gelo que havia se formado e não derretido no verão. Desta vez, o aumento da temperatura trouxe uma condição da atmosfera muito instável e mais gelo flutuante do que o normal. O resultado disso é muita neve, tempo ruim, vento, ciclones malucos e rápidos, entre outros probleminhas do cotidiano antártico. Faltam 3 dias para estar no navio e de olho no gelo lá embaixo (foto ao lado) vejo a Ilha Rei George bem branquinha, alguns icebergs ao largo e a Peninsula Antártica ainda com bastante gelo pela volta (mesmo debaixo das nuvens).


Amanhã eu empacoto o resto das roupas definitivamente no impermeável e fecho a mala grande. Vai ficar faltando apenas alguns pequenos detalhes e uma lista ainda comprida demais para o meu gosto para finalizar na segunda.


Na terça, será Rumo 270º SP->Santiago de Chile e já na tarde do dia 8, RUmo 180° para Punta Arenas. Vou tentar continuar de olho no gelo......pois a regra diz "com muito gelo e neve, melhor dormir quando dá e comer quando puder" ! Esse início de viagem vai ser "congelante" com certeza. Para acompanhar a previsão do tempo e a quantidade de neve, sugiro uma visita nos links ao lado (Carta Sinótica Antártica e Câmera da Base Chilena), além do magnifico site do pessoal da Meteorologia Antártica do INPE (http://antartica.cptec.inpe.br/).


quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Antes de mim, foi a Mari (!).


Calma ! não é esse o navio (risos). Hoje o MSC Música saiu de Santos levando a minha Maricota para um pequeno passeio de 3 dias até Ilhabela. Doeu n coração, até mesmo porque uma hora depois da partida do navio ela me ligou dizendo que estava com saudades (e brincando com o colete salva-vidas). Bem...imagino que a saudades ia bater pelo menos até a próxima sessão de piscina (rsrs).


Quem não estava entendendo muita coisa era a Lili, com olhar desconfiado, e chorando toda hora. Me parece que os animais presentem mais do que os seres humanos. Lili só observa de soslaio o movimento de mala e roupas de frio. Ontem se enfiou debaixo da minha cama levando meu gorro de neve (?!) Será que vou ter um motim dentro de casa ?


Falta muito pouco agora....já nem dá mais para contar as horas que voam sem perdão. Não tenho a mochila arrumada ainda mas tudo está separado e revisado. Faltam apenas alguns detalhes de equipamentos e embalar tudo para a viagem (parece até muito mas não é...apenas 18 kilos de material).


E o mais importante....tenho que colocar os enfeites de Natal na porta (!) senão o Papai Noel esquece da minha.