desde o ultimo post, e' impressionante como o tempo voa e as condicoes
mudam. A Antarctica e' uma caixinha de surpresas, algumas boas e outras
nao tao boas. Nos ultimos 4 dias tivemos tempo variando de
maravilhosamente aberto a quase furacao. Incrivel !
Dentro de mais dois dias estaremos finalizando a penultima pernada da
viagem. Dia 31/12 estarei em Frei para receber mais um grupo e deixar
este. Ja' estou em contagem regressiva para a volta. Muitas saudades de
todos.
--- 24/12 Vespera de Natal (Continuacao) ho ho ho Natal em Skontorp
O dia amanheceu com bastante sol e poucas nuvens, e parece que estamos
flutuando no meio de bolos cobertos de glace. Entramos em Paradise Bay
para fundear prуximo a base Almirante Brown (Argentina - que esta'
fechada). Dividimos os passageiros em dois grupos. O primeiro grupo com
28 pessoas, desceu em terra (neve) com Alex e Doc para uma caminhada na
volta da estacao argentina. O segundo grupo ficou com Sho e comigo, em
dois Zodiacs, para um passeio em Skontorp. Foi legal, tirando o fato de
que quase arrebentei o helice em uma pedra logo de saida. Passeamos
dentro de Skontorp por boas duas horas, ate' que no final, pouco antes
de subir a bordo novamente, avistamos o veleiro Anne Margherita,
derivando ao longo do canal enquanto os passageiros deles desciam em
terra. Alem disso, vimos um dos pinguins albinos da estacao Videla (Baia
Paraiso) na praia tomando sol.
Assim que cheguei a bordo liguei para minha mae e falei com Mariana, que
estava passando o dia de vespera de Natal na minha casa. Saudades
imensas ! Minha familia estava toda la' e imagino a festa que estavam
fazendo.
Tivemos um almoco muito bom a bordo e logo em seguida tomamos curso para
Neko Harbour. O dia estava realmente lindo com muito sol, o que nos
proporcionou momentos fantasticos na praia. Sem vento, decidi molhar os
pes na agua gelada e incrivelmente, a areia estava deliciosamente
quente. Os pinguins estavam literalmente suando e ficamos um bom tempo
na praia. Foram horas fantasticas com o ceu azul e muito sol.
Infelizmente tudo tem seu preco e tenho certeza de que um tempo muito
ruim (meteorologicamente) esta' por vir nos prуximos dias.
Voltamos para o barco as 17h30, para um rapido descanso seguido de
shopping time da Antarctica XXI para os passageiros. Fiquei ajudando na
venda das camisetas e logo as 19hs comecou a ceia de natal a bordo.
Gemma me fez vestir a fantasia de Papai Noel e foi no minimo divertido
jantar fantasiado.
Logo depois da janta tomamos curso para Deception, com uma pausa de mais
de uma hora ao redor de uma baleia corcunda com a cauda toda preta.
Tiramos varias fotos e espero que possa usar alguma das caudas para
identificar as ditas.
Agora a meia noite teremos uma champagne no bar mas nao sei se vou.
Estou cansado e com muito sono. Sei que o dia sera' cheio amanha. Vou
sonhar com o Brasil e com as baleias por aqui.
--- 25/12 A decepcao de Deception - False Bay e Las Olas
O noite nao foi tranquila. Ventos fortes e ondas de lado nao deixaram
ninguem dormir direito. Imagino que o Drake deva estar um inferno pois
atravessando o estreito de Bransfield estava bem ruim. Chegamos a
Deception logo cedo pela manha e ja' entramos pois do lado de fora nao
estava agradavel ficar. Pouca visibilidade e vento aumentando a cada
minuto, largamos вncora para um cafe' calmo em Whalers Bay. Nao deu para
baixar os Zodiacs pois o vento chegou em 40 nуs antes do fim do cafe.
Plano B acionado - navegamos direto para Livingston, com ondas de 2.5 m
а 3 m e vento sempre subindo. Resultado da brincadeira - metade do navio
mareado.
Chegamos para o almoco em False Bay e por mais incrivel que pareca la'
estava bem tranquilo. Sem vento e tempo encoberto, a baia que
descobrimos na ultima viagem estava repleta de pequenos blocos de gelo.
Bom passeio para zodiacs. Baixamos 4 deles, dirigidos por Sebastian,
Sho, Alex e eu. Ja' nos primeiros minutos, descobrimos que uma populacao
enorme de focas leopardo descansam por aqui. Avistamos praticamente umas
20 delas em diferentes blocos de gelo, descansando. Passamos mais de
duas horas nos botes, andando pelo gelo da baia. Mas nao precisou de
muito para o vento comecar a subir e os passageiros reclamarem de frio.
Voltamos para o barco e imediatamente levantamos вncora com rumo para
Livingston Media Luna.
O mar implacavel bateu nos 3 metros de onda com ventos de ate' 50 nуs.
Ai foi o desastre da orquestra ! Eu mareei brabo e nem sem mais o que
aconteceu, pois preferi ficar na minha cabine quietinho deixando o mar
passar.
Sу fui levantar ja' em Fields (passamos por Media Luna e nem paramos,
com o mar osso que estava), com metade do barco coberto de neve fresca e
o vento ainda nos 20 nуs. Visibilidade nenhuma, apesar de que vejo as
luzes de Artigas, a base uruguaia do outro lado de Fields. Nos
escondemos aqui dentro, longe do mar revolto, para um pouco de sossego.
Sao 2 da manha e tomei uns pratos de sopa com torrada. Praticamente o
barco inteiro dorme, fundeado por aqui. No radio escutei uma conversa
dos chilenos dizendo que nao irao permitir vфo pela manha por causa das
condicoes meteorolуgicas, mas vou esperar o dia comecar para ver isso ao
certo.
Agora, vou tentar cochilar umas horinhas, pois com o balanco que estava,
ate' em pensamento dava para enjoar.
--- 26/12 FREI FREI FREI
Acordei logo depois do cochilo, por volta das 6 hs com o barco
praticamente parado. Estavamos fundeados a frente da base sul coreana
King Sejong. Vento na casa dos 20 nуs e uma densa camada de neve
recobria tudo. O ceu estava muito cinzento e pouco convidativo. Mas pelo
menos estavamos parados !
Cafe' da manha а jato pois mal levantei ja' me deparei com o caos - vфo
saindo de Punta Arenas as 8hs. Tivemos que correr com todas as coisas e
nos apressar em terminar os afazeres pois a troca de passageiros iria
ocorrer dali a pouco. No entanto o vento nao dava tregua e ate'
aumentava. Mudamos de posicao, mais para perto da base chilena, e mesmo
assim o mar e o vento estava de lascar. Alex desembarcou as bagagens e
eu fui organizar os salva-vidas para os novos passageiros. Em menos de
meia hora estavamos voando e nos ensopando nas ondas da baia Fields com
os zodiacs de um lado para outro. Uma loucura.
O aviao chegou pontualmente as 11hs e ja' estavamos com todos os
passageiros aguardando, alguns molhados e outros nem tanto. Para a minha
surpresa, olhei para a baia e vi um simbolo conhecido "SABESP" (!) Que
diabos um barco com o simbolo da Sabesp estava fazendo ali na Antartica
? Era o "Mar Sem Fim", o barco que viajou pelo litoral brasileiro
fazendo filmagens da costa. Eles tinha saido de Port Williams e
atravessado o Drake, mas a 140 milhas da chegada a ilha Nelson,
quebraram os dois reversores, que fazem o barco andar ! Ficaram a deriva
ate' serem resgatados por um barco chileno. Agora estavam desmontando o
reversor para verificar qual peca teriam que comprar no Brasil e enviar
por aviao ate' Frei. Loucura total - o Drake com um barco de 20 metros e
pouco mais que 5 metros de largura.
Zarpamos a toda maquina para a peninsula, por volta das 5 da tarde. Dei
uma breve palestra as 18 hs e fomos a janta - Lomo Argentino Grelhado -
delicious ! Agora estamos passando ao largo de Deception, ja' n omeio do
Bransfield, estrranhamente calmo desta vez. Rumo 260 - Foyns Harbour. E
eu vou dormir.
--- 27/12 Foyn - Curveville - Port Lockeroy
O dia amanheceu tranquilo e parcialmente encoberto, mas com luminosidade
suficiente para vermos todo o esplendor do Canal de Gerlache. Algumas
baleias nadavam a distвncia do barco e o vento praticamente parou de
soprar. O cenario era no minimo bucуlico. Um belo dia para comemorar o
aniversario de minha irma Zila - parabens Zila !! Tentei ligar para o
Brasil mas alguma coisa nao estava funcionando muito bem no telefone via
satelite. Acho que a antena tinha se desconectado. Deixei para tentar
mais tarde.
Um pouco antes do cafe' da manha ja' estavamos parando prуximos a Foyn
Harbour. As 9hs ja' estavamos todos a postos com os zodiacs para um
passeio entre as rochas deste lugar raso, praticamente sem pinguins, mas
com muita histуria. Aqui varios baleeiros no passado usaram a area para
descanso e corte de baleias e focas. Um foqueiro naufragado e abandonado
e' um marco histуrico, e de um tempo que a maioria quer esquecer. Varias
Sterns antarticas e articas voavam por ali. Deve haver um ninho enorme
no naufragio.
Ainda seguimos por mais uma hora pelas voltas da Ilha Enterprise e da
Ilha Nansen, explorando o local. Voltamos ao barco ja' por volta de
11h30, mortos de fome. Seguimos pelo almoco ja' por fora do canal Errera
e de volta a Gerlache, onde rumamos para Ilha Curveville. Ali existe uma
pinguineira gigantesca, com mais de oito mil pinguins papua. Ficamos por
mais de duas horas visitando a pinguineira e avistamos do outro lado da
baia o "Kotic", um veleiro de expedicoes antarticas bastante conhecido e
bem referenciado nos livros de Amyr Klink. Deu vontade de navegar a vela
um pouco pela regiao.
Voltamos a bordo no fim da tarde para tomar rumo а Port Lockeroy.
Jantamos rapidamente e ja' no fim do servico fundeamos nas aguas
tranquilas e calmas de Port Lockeroy. Um desembarque surpresa pois era o
terceiro evento do dia. Maravilhoso ! Consegui tirar fotos do mesmo
ninho que dias antes eu tinha visto um pequeno pinguim quebrar a casca
do ovo. Agora os filhotes estavam um pouco maiores mas ainda sob os
cuidados da mae. Mandei alguns postais e comprei um livro, e logo em
seguida comecei a organizar a volta. Eu estava operando um dos zodiacs e
tinha que fazer algumas viagens para o navio levando passageiros. No
caminho, encontramos um elefante marinho juvenil descansando nas pedras.
Sera' que e' parente do Teobaldo ? o elefante marinho que o Amyr
encontrou por aqui anos atras ?
Voltamos ao barco agora com visitas. As 4 meninas de Port Lockeroy
vieram para um pequeno coquetel e a conversa foi ate' as 23 horas.
Tentei ligar novamente para o Brasil mas ainda o telefone parecia nao
coperar. Bem, Zila vai receber os parabens pelo blog ! Desculpa maninha
!
Sebastian e eu pegamos novamente o Zodiac para levar as meninas de volta
para a base e no caminho, uma foca leopardo simplesmente ficou encarando
nossa barco. Fantastico ! Jamais pensei que iria terminar a noite vendo
uma foca leopardo tao de perto - e ainda por cima cacando ! Agora sao 3
da manha e estou por aqui fazendo aquele trabalhinho que nao pode ser
adiado - lavando roupa e ajeitando minha cabine. Espero ainda dormir um
pouco antes de comecarmos a navegar rumo ao sul.
--- 28/12 Lemaire - Vernadsky - Peterman e BBQ
"Bom dia a todos. Sao 7h30 e estamos entrando neste momento no Canal de
Lemaire. A ponte esta' aberta para aqueles que quiserem acompanhar a
entrada, como tambem as cobertas externas do barco". Fui acordado pela
voz de Sebastian no auto-falante do navio, anunciando a entrada no Canal
de Lemaire. Sono....muito sono ! Mas enfim, tenho que levantar. Ainda
deu tempo de ver uma ou duas baleias nadando na volta do navio antes de
descer para o cafe' da manha. Entramos nas Ilhas Argentinas as 9h00 em
ponto e comecamos a operacao de desembarque logo em seguida. O navio
desta vez parou bem na frente da estacao ucraniana Vernadsky, dentro do
estreito canal que separa as duas ilhas principais. Logo estavam todos
na frente da estacao e quando me preparava para entrar, Sebastian chamou
a todos convidando para um "passeio privado" do grupo Staff.
Aproveitamos que todos os passageiros estavam em boas maos ucranianas e
saimos todos (Sebastian, Sho, Alex, Doc e eu) em um Zodiac pelos canais
estreitos ate' Skua Creck, um pouco mais ao sul. Foi uma surpresa pois
encontrei o "Santa Maria Australis" fundeado e escondido no meio de duas
ilhotas. Que veleiro maravilhoso ! quero ter um destes.
Um pouco mais adiante deste ponto paramos prуximos a uma casinha pequena
com a bandeira inglesa e dois carpinteiros. Eles estao reconstruindo uma
antiga estacao inglesa que servira' de museu, assim como Port Lockeroy.
Achei barbaro. Provavelmente no prуximo ano poderemos passar por ali. Os
canais sao fantasticos para se parar com um veleiro, e as aguas do canal
profundo esta' cheio de focas e baleias.
Voltamos para pegar todos os passageiros e fazer um passeio de zodiac
pelos canais. Vimos varias focas caranguejeiras descansando por ali,
algumas skuas sobre as pedras, e uma infinidade de formas variadas de
icebergs. Como a area das Ilhas Argentinas e' muito rasa, a maioria dos
grandes icebergs que migram de sul para norte acabam parando por ali. e'
um estacionamento de icebergs. Ficamos por uns 40 minutos entre os
blocos de gelo, ate' voltarmos para o barco, primeiro Sho e eu em
zodiacs diferentes. Os outros seguiam bem atras. Dai aconteceu ! ate' o
momento foi o ponto mais cфmico da viagem.
Parei o zodiac como de costume na passarela do navio e desembarquei meus
11 passageiros. Mika, o oficial da ponte me avisou pelo radio para
deixar o zodiac amarrado na popa ao inves de subi-lo com o guincho. Essa
manobra e' comum para os russos, pois o barco fica amarrado na popa e o
piloto tem que "saltar" para dentro do navio, que tem uma diferenca de
altura de uns 1,80 m entre o Zodiac e a borda. Facil ! para um russo de
1,90 como a maioria por aqui. Na primeira tentativa, eu simplesmente
fiquei pendurado pela borda, e o zodiac se afastou da borda no mesmo
instante. Ou seja, fiquei pendurado como um perfeito imbecil enquanto
que Yuri, o oficial de conves me olhava meio atфnito sem saber o que
fazer. Apуs uma serie de improperios em varias linguas, Yuri entendeu o
meu "Take the F. rope again !" e mais alguns palavroes em espanhol e
portugues, e puxou a cordo do zodiac novamente. Com isso ganhei pe' e
pelo menos me livrei do banho de agua gelada. Seria no minimo ridiculo
ser o unico a cair na agua em toda a viagem ! Pensei meio rapido e
aproveitei uma pequena onda para dar um impulso na borracha do zodiac e
pular os 10 centimetros que me faltavam em altura. Pode parecer pouco
mas fez uma diferenca enorme ! consegui me apoiar com mais firmeza na
borda e depois de mais uns improperios, rolei para dentro do barco. Que
situacao mais ridicula ! Yuri, primeiro assustado com a possibilidade de
me ver dentro d'agua, passou ao riso aberto, enquanto que eu ficava
entro o "F." e o "S." (em ingles em alto e bom tom!).
Passado o susto, almoco rapido e mais uns 30 minutos de navegacao,
fundeamos na frente de Peterman Island. O sol abriu firme e forte,
requerendo uma camada extra de protetor solar. Descemos as 3 da tarde na
ilha e caminhamos dispersamente pela pinguineira de adelies, papuas e
alguns cormoroes de olho azul. Os filhotes estavam enormes. De repente,
no meio de todas as pedras, alguma coisa me chamou a atencao e la'
estava um pedaco enorme de um tronco fossilizado. A arvore devia ser bem
grande e obviamente, nao havia uma floresta ali. Esse pedaco deve ter
sido trazido pela geleira da ilha que retrocedeu muito nos ultimos
milhares de anos. Ainda e' possivel ver os diversos terracos dos antigos
periodos de deglaciacao. Ainda encontrei um pouco mais acima, cerca de
uns 25 metros acima do nivel do mar, uma paleopraia - um conjunto de
pedras rolicas, arredondadas pelo mar, provavelmente naquele nivel a
milhares de anos atras. Essas sao as maiores provas das alteracoes
climaticas de longo curso durante a histуria geolуgica da Terra. Ainda
nos deliciamos um pouco pela ilha, entre as diversas pinguineiras, e
voltamos ao navio ja' com o vento querendo chegar na casa dos 20 nуs,
mas ainda com muito sol.
Mais 30 minutos de navegacao e entramos em Girard cove, para nos
abrigarmos sobre um paredao de rocha e neve, especialmente preparados
para o churrasco antartico tradicional. Sol e nada de vento, muita gente
jovem a bordo nessa viagem, e o churrasco transcorreu como a comedia
tragi-cфmica de sempre: bebados de fim de festa e musica russa da pior
qualidade. Eu sai depois da segunda garrafa de vinho quebrada rolando
pelo conves, ja' cansado e com muito sono.
Amanha espero que o tempo continue firme. Iremos a Baia Paraiso,
Skontorp e Neko.
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